Desenho original de 1937 |
A história, tal como o tempo, anda a passo
travado. E se a vida que decorre do tempo assenta em pequenos, médios ou
grandes episódios, aos quais podemos juntar os mais variados “estados de alma”,
a história faz-se também de pequenos ou grandes contributos e alguma emoção. Sem
emoção não há histórias, há relatórios.
Mas que tipos de história podemos fazer?
Há a chamada “grande história”, que nos fala
do mundo, das nações, das grandes figuras e feitos do ser humano, cultivada em
geral pelos génios ou por aqueles que se acham génios, e a “pequena história”,
somatório do que parece insignificante, mas, matéria sem a qual não se
conseguiria entender hoje mais que o essencial. Apesar de alguns académicos
continuarem a desvalorizar aquilo a que chamam “história local” ou “pequena
história”, que não é a mesma coisa mas que eles, na sua infinita sabedoria
colocam na mesma arca, académicos esses que eu gostaria muito de ver fazerem as
tais sínteses com que se armam em pavões sem os pequenos contributos... bom, mas isso
são orações para outros altares e o que aqui importa dizer é que, a “pequena
história”, ou aquilo a que chamam “pequena história” tantas vezes de forma
pejorativa e que eu tenho simplesmente como História, vai-me surpreendendo
todos os dias. Em particular a da minha terra.
O que
aqui fica, hoje, depois de uma tarde de domingo a “catar” fontes, é um pequeno
contributo para a história da Póvoa, focado no lugar de Porto d’Ave, o mais
importante da freguesia de Taíde.
Não falarei do que já está escrito, e muito é,
tantos os livros publicados sobre a localidade. Apenas traço é um apontamento que pretendo que funcione como simples curiosidade.
Refiro-me à abertura do acesso do
santuário da Senhora do Porto à estrada nacional Póvoa-Fafe. Até meados da década de 1930 ir ao
santuário de Porto d’Ave, descer da estrada ao templo, só era possível a pé ou
no máximo a cavalo, por estreitos caminhos. Não ia lá um automóvel, por
exemplo. E o automóvel começava a tornar-se um bem de consumo diário para muita
gente. Mas também lá não descia um bom carro de tração animal, uma carreta dos
bombeiros. Descer a pé era remédio que todos tomavam.
Em meados da década de 1930, o médico e
professor Dr. Francisco Vieira e Brito, um dos maiores, senão o maior benfeitor
da irmandade, da qual foi juiz durante anos e anos, sonhou com a construção de
uma estrada de acesso ao mosteiro. Por onde? Não era fácil, dadas as diferenças
de cotas dos terrenos e sobretudo devido aos terrenos que podiam ser utilizados
pertenceram a vários proprietários, com as dificuldades que sabemos existirem
ao tempo para qualquer proprietário se desfazer de uns metros de courelas.
Francisco da Cruz Vieira E Brito |
Vieira e Brito sonhou, lutou, investiu,
empenhou-se e conseguiu o que planeara. Em dezembro de 1938 estava decidido que
a avenida- isso, avenida – seria pelo lado poente, entre a estrada nacional e o
adro do santuário. A planta estava pronta e há mais de um ano que havia sido
enviada para Lisboa, para o ministério da tutelo, a fim de ser aprovada e de
lhe ser concedido um subsídio para a construção. Não que o Dr. Vieira e Brito não
fosse homem de a construir sem subsídios. Muito e muito mais que isso deu ele à
irmandade, em vida e depois da morte. Mas porque quando chegou a juiz encontrou
tudo tão ao abandono, tão velho, que há muito vinha gastando do seu bolso para
renovar, alindar, substituir. Entre muitas dezenas de contos para portas,
arranjos de muros, substituição de tetos, rebocos e pinturas de paredes. Deu 5
contos de réis (uma boa maquia, à época) para esta avenida. Mas, usando o seu
prestígio – tinha sido diretor dos laboratórios de análises clínicas da
Universidade de Coimbra, era professor em Braga…), continuou a lutar para que
Lisboa ajudasse.
E em junho do ano seguinte (1940), o
ministério das obras públicas lá aprovou, através do fundo de desemprego, um
subsídio de 43.752$00 para a abertura da nova avenida e para que aquela a que
ainda hoje chamam “arruado” fosse devidamente calcetada.
A obra arrancou pouco depois, tendo sido
executada pela câmara, por administração direta.
Pouco depois, foi também aprovada a
construção da rede elétrica ao lugar de Porto d’Ave, com 13.654$00, para cuja
aprovação Vieira e Brito deu forte contributo.
O Dr. Francisco Vieira e Brito não sendo de
Porto d’Ave, foi um dos grandes nomes da sua irmandade.
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Para conhecer melhor a figura de Francisco Vieira e Brito aceder o link:
http://dicionariodepovoenses.blogspot.pt/2012/02/francisco-da-cruz-vieira-e-brito-1893.html
Alfredo da Silva Araújo |
Noutra dimensão situou-se o Sr. Alfredo da Silva Araújo, fundador da fábrica da Abelheira. Também ele deu muitos contos de réis ao santuário, pagando do seu bolso muitas das obras que na década de 1930 ali foram feitas.
Era natural de São Miguel, da Vila das Aves,
onde também possuía uma empresa: a fiação de Rebordões.
Aos bombeiros da Póvoa, ofereceu um automóvel
– a primeira "automaca" – e um seguro de vida que cobria as necessidades de todos
os soldados da paz da corporação. Em inícios de 1940. Não chegou a assistir ao “batismo”
da ambulância, já que faleceu em inícios de março desse mesmo ano, uma década
depois de ter instalado às portas de Taíde a fábrica da Abelheira, que tanta gente empregou.
Deixou quatro filhos: António, Armindo, José
e Artur da Silva Araújo. Foi a enterrar na sua terra natal, São Miguel da Vila das Aves.
Foi outro grande benfeitor portodavense.