domingo, 6 de maio de 2012

No 125º aniversário do semanário “Maria da Fonte”: notas sobre a Imprensa periódica na Póvoa de Lanhoso


José Abílio Coelho[1]


É-nos hoje muito difícil fazer sequer uma pequena ideia da reduzida quantidade de pessoas que, em finais da centúria de setecentos, sabia ler ou escrever[2]. E no entanto passaram apenas pouco mais de dois séculos. A esta distância, muito tempo para uma simples vida mas período muito curto na larga agenda da História, mais difícil se nos torna entender que mesmo nos centros mais evoluídos da Europa, a leitura de livros e periódicos se processasse muitas vezes em voz alta, por parte de alguém que o soubesse fazer perante uma plateia que, podendo ter, até, muitos bens de fortuna, permanecia iletrada. Philippe Ariès diz-nos mesmo que, em França, só em finais do século XVIII começou a ganhar adeptos entre os burgueses “a leitura na intimidade, que permitia uma reflexão solitária”[3]. Mas mesmo para muitos daqueles que, já em pleno século XIX, frequentavam a escola, ler em casa de forma solitária significava muitas vezes soletrar apenas: estar obrigados a uma, duas, três leituras da mesma frase até conseguirem compreender a mensagem que o texto comportava.
Nas grandes metrópoles da Europa as escolas foram crescendo em significativo número e melhorados os processos de instrução, especialmente após os “ventos de mudança” levantados pela Revolução Francesa e pelas grandes alterações políticas que se lhe seguiram, com as práticas da leitura e da escrita a evoluírem consistentemente.
Em Portugal, melhorariam também gradualmente mas apenas a partir da década de 1850. Essa melhoria, no que respeita a escolas públicas, notou-se muito especialmente em cidades como Lisboa, Porto e Coimbra, onde na centúria de oitocentos surgiu em força uma classe de letrados. Ao contrário, no interior do país, essencialmente rural, estava já bem avançado o último quartel do século XIX e era ainda muito reduzido o número de pessoas que sabiam ler e escrever. Em 1867, de 757.000 crianças dos 7 aos 15 anos registadas no todo nacional, havia ainda cerca de 600.000 que nunca tinham ido à escola[4]. Mesmo Lisboa, em 1878 apresentava ainda uma taxa de analfabetismo que ia dos 70 e aos 75 por cento, enquanto por exemplo no distrito de Braga a taxa de analfabetos rondava pelos 85 por cento do total da população[5].
O concelho da Póvoa de Lanhoso foi, até meados do último quartel do século XIX, uma dessas terras perdidas num Portugal agreste onde tirando as cidades capitais de distrito, a esmagadora maioria da população se dedicava à agricultura e vivia fechada à aprendizagem das letras mais básicas.

A Póvoa de Lanhoso no século XIX
Na sua tese de mestrado sobre o papel do administrador do concelho José Joaquim Ferreira de Melo e Andrade na Revolução da Maria da Fonte[6], Paulo Alexandre Ribeiro Freitas publica um conjunto de tabelas que nos permitem conhecer um pouco da realidade povoense até agora inédita: em 1836, para uma população de 1.177 indivíduos residentes na freguesia de Fonte Arcada, a mais desenvolvida das que compunham o concelho, apenas 75 eram eleitores. Destes, 4 eram advogados, 5 dedicavam-se a ofícios vários, havia 1 cirurgião e 1 juiz, 3 escrivães e outros tantos militares e padres, 2 eram professores, 2 vendeiros ou negociantes, 1 pensereiro, sendo o maior número dos recenseados proprietários, onze no total, e lavradores os restantes, em número de 39.
Na mesma data (1836) e segundo o referido estudo, para um total de 8.156 habitantes existentes no concelho, à época composto por apenas 14 freguesias[7], existiam somente 255 eleitores. Menos de uma década volvida, para o mesmo número de freguesias, os eleitores recenseados no concelho haviam subido para 356, ainda assim uma percentagem extremamente reduzida.
Convém dizer-se aqui que, pelo articulado do código administrativo de 1837, o qual respeita o espírito da lei em que se baseou o recenseamento das eleições do ano anterior, não eram eleitores os que sabiam ler e escrever, mas os que pagavam determinado montante em impostos[8]. Não andaremos porém muito longe da verdade se dissermos que a diferença entre o número dos cidadãos que pagavam impostos e podiam por isso recensear-se, tornando-se eleitores, e o dos que sabiam ler e escrever não era grande. A isto acresce o facto de não nos ser difícil concluir que os que sabiam ler e escrever se agrupavam em núcleos familiares restritos, o que limitava muito o número de casas de residência onde havia interesse por livros e jornais.
Em 1907, na primeira monografia histórica da Póvoa de Lanhoso intitulada No Coração do Minho, ainda José da Paixão Bastos, um dos maiores nomes da nossa imprensa, escrevia: “Este concelho, composto por 28 freguesias, é servido por 2 escolas mistas, 6 femininas e 15 masculinas, ou seja, [por] 23 escolas, [um] número suficiente (…). Mas as escolas são frequentadas por um limitado número de alunos (…). Entre nós, à escola vai quem quer e quando quer, pois o pai e a mãe, na sua feliz ignorância, dá como luxo liberdade ao seu descendente (…). Por sua vez os encarregados de educação não querem contrariar a inocência dos meninos, e assim vão crescendo envoltos nas trevas do analfabetismo, na criminosa ignorância”[9].

O primeiro jornal em 1885
Que público, ou melhor dizendo, que número de leitores podia ter então à sua espera o jornal que, no dia 1 de Junho de 1885, veio a público na Póvoa de Lanhoso e ao qual os fundadores chamaram “O Castelo de Lanhoso”? Visto o reduzido número de leitores a que se destinava, tudo parece indicar que à partida o jornal estaria condenado ao fracasso. Foi, talvez por não acreditarem que a Póvoa de Lanhoso tivesse espaço para um jornal, que os habitantes na terra permitiram que este primeiro periódico nascesse a partir de Braga, cidade onde, no número 1 da Rua dos Granjinhos, possuía sede.
Definindo-se como “hebdomadário político, literário e noticioso”, teve como proprietário e fundador Narciso António Rebello da Silva, um homem de Braga com ligações à Póvoa. O seu redactor-principal foi Manuel Cândido Loureiro e o editor Zeferino de Azevedo Barroso. Publicando-se às quintas-feiras, a assinatura para o reino custava 1.000 réis por ano, enquanto para o Brasil, onde pretendia conquistar grande mercado junto da comunidade portuguesa que aí vivia emigrada, 3.000 réis.
O facto de ter redacção em Braga, onde, como se disse, também residia o seu proprietário, leva-nos a pensar que não houve na Póvoa quem tivesse a coragem de se lançar num projecto novo. Não obstante, os textos que o periódico comportava mostram-nos que quem nele escrevia conhecia bem a terra. Vejamos, como simples exemplo, este extracto do editorial publicado no seu número 3, datado de 18 de Junho de 1885: “Infelizmente em Lanhoso, é força confessar, os diversos grupos dilaceram-se mutuamente, caluniam-se sem guarda de simples conveniência, pensando, talvez, preencher o fim sagrado da defesa dos interesses seus e alheios. Como corolário de tal procedimento resulta o abandono completo dos poderes públicos desta terra. O exemplo de tantos concelhos que prosperam pela união dos povos, não traz a este a compreensão lúcida da força resultante da união, hoje distribuída em tentativas loucas e se perdem no dize tu, direi eu, da política de soalheiro, coradouro onde todos expõem a roupa suja do seu adversário”[10].
Para um jornal cuja redacção se situava em Braga, não nos parece de todo mal feito o diagnóstico da terra, onde a política e as benesses que dela resultavam eram, desde há várias décadas, a grande preocupação das figuras dominantes.
Este primeiro jornal povoense, apesar de ter nascido da iniciativa de alguém de fora, veio revolucionar a terra. Estávamos no período maduro de uma nova concepção da política nacional: o republicanismo começara a ganhar adeptos alguns anos antes, mesmo nestas terras perdidas entre grandes moles graníticas, ao passo que a Monarquia, que definhava já, dividia cada vez mais em dois grandes grupos radicalmente opostos os que defendiam o sistema vigente.
Só a descoberta da enorme força de um jornal, mesmo num concelho onde os leitores eram em número reduzido, pode justificar que, ao fim de apenas meio ano, as elites emergentes na Póvoa de Lanhoso resolvessem envolver-se na empresa de o tomar para si, fundindo-o num projecto que, com outra designação, lhe dava continuidade. Desconhecemos qual terá sido o processo, como se terá gerado a fusão, mas sabemos que, no dia 3 de Janeiro de 1886, “O Castelo de Lanhoso” dava lugar a um outro semanário, intitulado “A Maria da Fonte”. A primeira página do derradeiro número de “O Castelo de Lanhoso” vinha impressa na segunda página do número um de “A Maria da Fonte”, o que mostra que o nascimento deste esteve umbilicalmente ligado ao desaparecimento daquele.

Cabeçalho do primeiro número de "A Maria da Fonte" (1886)
 
Ao contrário do “Castelo de Lanhoso”, “A Maria da Fonte” teve como proprietário um povoense, o jovem comerciante Álvaro Ferreira Guimarães que viria, poucos anos volvidos, a transformar-se numa das mais importantes figuras do meio, tendo sido presidente da Câmara por várias vezes, administrador do concelho outras tantas, estando, ainda, o seu nome ligado à história de quase todas as instituições que viram luz nas primeiras quatro décadas do século XX, da Misericórdia à freguesia da Póvoa de Lanhoso, da paróquia da Senhora do Amparo ao Sport Clube Maria da Fonte, da Irmandade de Nossa Senhora do Pilar aos Bombeiros Voluntários.
Conhecedor do meio, Álvaro Ferreira Guimarães faz-se rodear dos melhores e no cabeçalho de “A Maria da Fonte” surgem, desde o primeiro número, dois nomes cuja importância nas Letras concelhias é, ainda hoje, lembrado: como redactor-principal, posiciona-se Azevedo Coutinho; e como responsável pela edição Francisco Manoel Martins d’Oliveira.
Não vou debruçar-me sobre a história do semanário “A Maria da Fonte”, sem dúvida o mais importante jornal desta terra, tão importante que alcançou os 125 anos de idade que hoje comemoramos e conheceu reis e presidentes, que sobreviveu a governos democráticos e a ditaduras de longo curso, que assistiu à ascensão e queda de vários regimes políticos, que sobreviveu a duas guerras mundiais, que foi testemunha de actos de heroísmo e de longas e negras noites de medos e traições, que nasceu num período de liberdade absoluta, atravessou tempos de censura e perseguição e que viu renascer a liberdade na madrugada “inteira e limpa” de uma quinta-feira de Abril, porque disso já aqui falou, e bem, o Dr. Paulo Freitas.
Avanço, antes, para 1888, ano do nascimento de outro semanário na Póvoa de Lanhoso: “A Folha Democrática”.
Ao analisarmos os primeiros dois anos de vida de “A Maria da Fonte”, fica-nos a certeza de que, embora por vezes titubeante, por força de distintas colaborações, o jornal começou por abraçar ideais monárquicos, tendendo na sua simpatia para o Partido Progressista. Mas como já se afirmou, a ideologia republicana começava a ganhar adeptos também nesta terra. É esse ideal anti-monárquico que, reunindo apenas uma meia dúzia de jovens, a maioria dos quais estudantes liceais com grande ligação à terra, preside à fundação de “A Folha Democrática”, vinda à luz do dia a 2 de Novembro de 1888. Foram seus principais obreiros os jovens Albino Bastos, que para além de redactor assumiu a administração e a propriedade e Gonçalo Sampaio, o redactor-principal. O editor era Henrique Zeferino.
Nas suas páginas, escreveram-se textos de onde se colhem excertos como este: “Há um bando de velhacos que andam por aí a explorar a boa-fé das classes menos ilustradas, pregando-lhes coisas horrorosas a respeito da República (…). É necessário correr com estes malandros, é necessário estabelecer um governo económico, é necessário implantar a República em Portugal”[11].
Tal como acontecia com o “A Maria da Fonte”, “A Folha Democrática” tinha redacção na Praça Municipal, e a assinatura anual custava também 1.000 réis anuais para o território nacional, e 2.000 reis fortes para o Brasil, exigindo o pagamento adiantado da assinatura.
Assumidamente republicano, este semanário foi bem recebido na terra onde, quer a família Carvalho Bastos, quer a família Ferreira Sampaio, tinham pergaminhos e estatuto social e político. Mas, como veremos no desenrolar desta comunicação, nenhum dos jornais surgidos na Póvoa de Lanhoso após o aparecimento de “A Maria da Fonte” irá ter a longa vida que caracteriza este último.
“A Folha Democrática” desapareceu com menos de um ano de publicação, em Setembro de 1889[12]. Albino Bastos continuará fiel ao ideal republicano, colaborando ou assumindo responsabilidades administrativas noutros projectos jornalístico, nomeadamente no “A Maria da Fonte”, até partir para o Brasil, em 1914, onde se formou em direito e foi advogado. Mas Gonçalo António Ferreira Sampaio, o editorialista que tão fervorosamente defendia a implantação de uma República em Portugal iria, em breve, mudar radicalmente o seu percurso. Depois de partir para o Porto, onde se fez professor universitário, tornou-se, ainda na vigência da Monarquia, apoiante do Partido Regenerador Liberal e admirador de João Franco. Já em plena República, aquando do episódio da “Monarquia do Norte” no início do ano de 1919, viria mesmo a participar em actividades violentas em defesa do regime monárquico e a ser detido depois do fracasso do movimento de Paiva Couceiro.
Voltemos, contudo, um pouco atrás.
Desaparecida em Setembro de 1889 “A Folha Democrática”, surgiu, em 16 de Agosto de 1900, “A Gazeta de Lanhoso”. Sobre este jornal, sabemos apenas a data da sua fundação, por informação que nos foi deixada por Paixão Bastos em “No Coração do Minho”. O mais provável é que, a exemplo da “Folha Democrática” tenha sido de publicação efémera.
Mais duradoira foi a vida de outro semanário nascido na Póvoa de Lanhoso a 4 de Dezembro de 1900. Definindo-se como “semanário independente”, era dirigido por Luiz Valle Rego, proprietário de uma farmácia na vila e casado com uma filha do benemérito Manuel Joaquim Barbosa e Castro, da Casa da Botica. Este jornal, intitulado “O Povo de Lanhoso”, ainda se publicava em 1910, tendo como director e proprietário o mesmo Luiz Valle Rego. Mas é certo que entre a fundação, em 1900, e o exemplar que se conhece datado de 2 de Julho de 1910, tenha estado auto-suspenso por tempo indeterminado. Justifica-o o facto de ter voltado a publicar-se como número 1 – Ano 1º, em 1910. Esta segunda série chegou ao nº 41, que se publicou em 8 de Julho de 1901[13].
“O Povo de Lanhoso” é mais um exemplo de “arma de arremesso” que alguns jornais povoenses assumiram na vida da terra. Para além da publicidade, dedicava, nos números que conseguimos consultar, longuíssimos artigos de fundo ao combate político e às questões comerciais. Entre os principais alvos do editorialista e director, contavam-se os então responsáveis por “A Maria da Fonte”, o advogado Alfredo Ribeiro e o comerciante Cyrilo Ferreira Gonçalves da Cruz. Como curiosidade, vejamos apenas este parágrafo de um texto assinado por Luiz Valle Rego e publicado na página 2 do número 41: “Mestre Alfredo, redactor da ‘Maria da Fonte’ e advogado, sempre pronto a defender-se connosco em questões várias, desta vez escreveu que o remendão Cyrilo assinou uma queixa para juízo dizendo que este jornal não se publicando alguns números, não era periódico e não podia publicar anúncios. Vejam a ignorância chapada! Em que lei se fundamentam os dois sócios da mamadeira ‘Maria da Fonte’? Sentiram a teta vazia e, querendo dar vigor à velha de quem fugia a seiva, vêm para juízo julgando que a lei é letra morta e que os digníssimos magistrados podiam ser ludibriados com lamúrias, como o foram os jurados na vergonhosa questão dos arados, em que o sogro e o compadre, que não sabem arrumar com a biqueira da bota quem assim os ilude o obriga a fazer ridícula figura. Enganaram-se os dois sócios. Pela segunda vez apanhou mestre Alfredo a vergastada na sua inveja (…) Isto arde no Alfredo que nem aguarraz onde as costas mudam de nome…”[14].
Este breve excerto de um texto maior serve apenas para aqui se ilustrarem “os amores” que, há cem anos, opunham alguns dos agentes da imprensa local e o tipo de ataques, de linguajar brejeiro, que se produziam. Podemos imaginar, aliás, o impacto que um texto destes terá tido numa terra onde, já em plena I República, os visados eram figuras de grande relevo político e o autor da matéria citada um defensor da deposta monarquia. Não nos é possível saber que influência pode ter assumido para o encerramento do jornal a publicação deste texto, mas a verdade é que o número em que tal artigo saiu a público foi o último da vida de “O Povo de Lanhoso”.

Maria da Fonte: título único durante cinco anos
Encerrado “O Povo de Lanhoso” em 1911, passou “A Maria da Fonte” ao estatuto de título único em publicação no concelho, situação que manteve até 7 de Dezembro de 1916.
Nesta data, tendo como editor e proprietário António Costa, um tipógrafo de Vieira do Minho, e como director José da Paixão Bastos, surgiu na praça outro semanário: Intitulava-se “A Póvoa de Lanhoso” e, no seu primeiro editorial, afirmava orientar-se “pela bússola da verdade, da Justiça e do Direito” e ser defensor “da Paz, da Liberdade, do Trabalho como base da sociedade, da Instrução, da Luz e do Progresso como guia do Povo na estrada do Bem”[15].
José da Paixão Bastos, o primeiro director deste semanário e figura maior das letras e do jornalismo povoense até à sua morte em 1947[16], manteve-se no comando do periódico por pouco tempo. Meio ano após a fundação, Paixão afastou-se e a direcção passou a ser desempenhada por Alberto César Leite. A partir do número 139, o cargo é assumido Custódio Manuel da Silva, um homem que virá a ter estreitas ligações ao padre José António Dias - o qual muitos anos depois assumirá a propriedade duma segunda série deste periódico.

Paixão Bastos foi fundador e director de vários jornais


Não avancemos, porém, sem deixarmos claro que, a exemplo de boa parte dos seus antecessores, esta primeira série do semanário “A Póvoa de Lanhoso” não resistiu à maceração do tempo, aos efeitos devastadores da I Guerra Mundial na economia portuguesa e à instabilidade política que, de Lisboa, se estendia a todo o país: cerca de três anos após a sua fundação “A Póvoa de Lanhoso” encerrou portas, deixando de novo “A Maria da Fonte” como único jornal do concelho.
Até 12 de Outubro de 1922. Teimando sempre em ter uma intervenção pública, Paixão Bastos uniu-se desta vez a Alberto César Leite para, juntos, fundarem nesse ano outro semanário a que deram título de “Jornal de Lanhoso”. A redacção deste hebdomadário funcionou, tal como acontecera com o antecessor “A Póvoa de Lanhoso”, na Rua D. Elvira Câmara Lopes, no rés-do-chão da casa onde habitava o director Paixão Bastos. Mais uma vez, “é a defesa dos interesses deste formoso terrão chamado Póvoa de Lanhoso” a animar os fundadores, que reconheciam ser “árdua, escabrosa e esgotante” a missão a que se propõem, embora se afirmassem animados a prosseguir com o projecto e a algo fazerem pela terra desde que conseguissem “arredar obstáculos, desprezar doestos, sacudir tibiezas e repelir insinuações malévolas”, bem como a colocar de lado “lutas partidárias e agressivas”[17].
Mas também o “Jornal de Lanhoso” teria existência breve, vindo a desaparecer pouco mais de dois anos volvidos sobre a publicação do primeiro número.

As ditaduras, um novo projecto e as guerras locam
A partir de 1924, com o desaparecimento do “Jornal de Lanhoso”, “A Maria da Fonte” voltava à posição de jornal único no concelho. Assumidamente republicano desde a implantação da República, em Outubro de 1910, e muito especialmente após ter sido adquirido por João Carvalho, que chegou à terra como tipógrafo e viria a afirmar-se como “a alma” do semanário depois de o ter comprado em 1920, “A Maria da Fonte” manteve-se fiel aos seus princípios de simpatia para com a velha máxima dos revolucionários franceses de 1789: “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”. E, assente neste princípio, atravessou o definhar da I República, com as suas crises políticas, os seus quase trinta governos em menos de oito anos e as consequentes mudanças no poder político local.
Era pois “A Maria da Fonte” jornal único no concelho quando, em 28 de Maio de 1926, dando o seu braço fardado no apoio ao descontentamento popular que via o país afogar-se numa crise económica, política e social, o general Gomes da Costa partiu de Braga para instituir uma Ditadura Militar. Numa página interior, o semanário povoense limitou-se a estampar pequeníssima nota, noticiando a revolta, mas sem dar opinião. Preferiu publicar, no número de 6 de Junho de 1926, um texto crítico aos homens fortes do novo regime, da autoria de Raul Proença. Ficava claro que a “Maria da Fonte” se mantinha fiel aos seus princípios demo-liberais, quatro décadas depois de ter sido fundado.

João Carvalho, "alma" maior do semanário "Maria da Fonte"


Os anos que se seguiram foram de estrema dificuldade. Portugal estava mergulhado na miséria económica, dependente de empréstimos externos; o país vivia mergulhado na pequena política e os cidadãos desejavam mudanças radicais, exaurido que estava o tempo útil da I República. E começava a ficar claro que os militares que tinham imposto a Ditadura não seriam capazes de concluir com êxito a mudança a que se haviam proposto. Até que, após várias tentativas mal sucedidas para resolver o problema maior do país, o desequilíbrio financeiro que empurrava o povo para a fome e o país para uma sucessivas reacções populares, os homens fortes da Ditadura Militar descobriram em Coimbra um jovem professor universitário, especialista em finanças chamado António de Oliveira Salazar. Foi este homem que, chamado ao governo como ministro das finanças, disse no seu discurso de posse realizada a 27 de Abril de 1928: “Sei muito bem o que quero e para onde vou”. E sabia.
Começou por colocar as finanças do país em ordem, com o sacrifício geral, e acabou por estabelecer um regime ditatorial e repressor que o manteve no poder até que uma queda, no forte de Santo António do Estoril, quando se abeirava já dos 80 anos, o diminuiu física e mentalmente, primeiro, acabando por o levar à morte em 1970 sem jamais se aperceber de que já não era o ditador de Portugal.
Quando Oliveira Salazar, depois de ter sido ministro das finanças por duas vezes, foi investido presidente do conselho de ministros, em 1932, a “Maria da Fonte”, ficou expectante.
Nessa altura o país ainda sonhava que, resolvidos os problemas financeiros e a crise social que enterrara a I República, o professor de Coimbra regressasse à sua cátedra na universidade e permitisse ao país voltar ao “Sol” da democracia. Mas Oliveira Salazar, ao contrário daquilo que sempre dissera e continuou a afirmar durante toda a sua longa permanência na presidência do Conselho, gostava do poder.
É do insuspeito Manuel Braga da Cruz a tese de que Salazar se tinha preparado, ou tinha sido preparado pela Igreja, desde os tempos de estudante em Coimbra, para governar Portugal com mão de ferro, pondo fim àquilo que o grupo que frequentava na cidade do Mondego considerava “os desmandos a que o Liberalismo e a República haviam levado o País”. Com Oliveira Salazar, tinham-se preparado, ou tinham sido preparados, um conjunto de outros jovens cuja missão seria a de travarem o anticlericalismo reinante. Muitos desses jovens (de entre os quais se destacaram Salazar e Gonçalves Cerejeira), tornaram-se figuras de relevo nacional. A outros coube a missão de encetarem um trabalho de formigas ao nível regional e local. À Póvoa de Lanhoso chegou, ainda antes dos militares terem tomado o poder em Maio de 1926 um sacerdote que viria, com o passar do tempo, a tomar todos os poderes, até se transformar, ele próprio, em “o poder”.
Foi sob orientação desse sacerdote, padre José António Dias, que na Primavera de 1929, cerca de uma década depois de ter sido extinta a primeira série, ressurgiu na praça povoense o semanário “A Póvoa de Lanhoso”. Esta segunda série teve por motores um grupo de homens umbilicalmente ligados à Igreja, que ficaram conhecidos na terra como “padre do Amparo”, aos quais se aliou o apoio de alguns leigos.
Assumindo, desde o princípio, simpatias pelos novos ideais políticos já burilados por Oliveira Salazar e que viriam a resultar na fundação do Estado Novo no início da década de 1930, o jornal “A Póvoa de Lanhoso” tornou-se na terra o seu grande defensor. A partir desta altura, se ao “A Maria da Fonte”, sob a gestão de João Carvalho e reunindo à sua volta um importante grupo de simpatizantes dos ideais de esquerda, ainda restava uma ténue perspectiva de que Salazar podia ser o homem de que Portugal precisava, a verdade é que, em escassos meses passou da dúvida à certeza de que assim não seria. Desde cedo, por isso assumiu definitivamente o papel de “voz da oposição”.
Em Dezembro de 1929 surgiu na praça pública, através das páginas de “A Maria da Fonte”, a primeira grande polémica entre os dois jornais da vila: Custódio António da Silva e Adelino Pinto Bastos, médicos do Hospital António Lopes, faziam graves acusações à mesa administrativa da Misericórdia recem-criada, afirmando que esta pagava um altíssimo salário a outro médico, o Dr. Adriano Vieira Martins. Na semana seguinte, era nas páginas de “A Póvoa de Lanhoso” que a resposta se publicava, mais contundente ainda que o texto de acusação. A verdadeira guerra ideológica nascida entre ambos os jornais não parou mais.
Foi terrível para “A Maria da Fonte” a censura imposta durante a Ditadura Militar e mais tarde pelo Estado Novo. Perseguições, prisões e suspensões temporárias do título marcaram os quase quarenta anos de Salazarismo[18].
Nas décadas de cinquenta e sessenta do século XX, o analfabetismo profundo que marcara o aparecimento da imprensa na Póvoa de Lanhoso, oitenta anos antes, começava a esvair-se. A emigração em força, especialmente para França, que teve início no final dos anos de 1950 e cresceu ao longo de toda a década seguinte, levando àquele país quase um milhão de portugueses, tornou-se um excelente mercado para “A Maria da Fonte”. Mas, a falta de assinantes e leitores que marcara época recuada, foi substituída durante o Estado Novo pela falta de Liberdade.

E enfim, a Democracia
No dia 25 de Abril de Abril de 1974, a restauração da Democracia em Portugal encontrou ainda separados pela antipatia os dois jornais que existiam na Póvoa de Lanhoso. Mas as disputas, existindo, nada tinham já a ver com os confrontos que marcaram as décadas de 1930 a 1960.
O “Póvoa de Lanhoso” viria a desaparecer em 1990.
Após a Revolução dos Cravos, livre do nó da censura, o panorama da imprensa povoense alterou-se radicalmente nascendo, consecutivamente, o “Jornal da Póvoa” (1 de Janeiro de 1981), o “Ecos da Senhora do Porto” (Outubro de 1985), o “Tribuna de Lanhoso” (8 de Janeiro de 1992), o “Terras de Lanhoso” (6 de Outubro de 1996) e “O Castelo de Lanhoso” (22 de janeiro de 1999)[19].
Hoje, 126 anos depois do aparecimento do primeiro jornal povoense mantêm-se em circulação apenas dois jornais: o “Terras de Lanhoso”, nascido há 14 anos, e o “Maria da Fonte”, que conta 125 de história.

Não queria terminar esta breve exposição sobre a Imprensa Povoense sem aqui deixar uma palavra em honra das muitas centenas de homens que, ao longo destes 126 anos, deram tanto de si para que a história do concelho ficasse “rascunhada” nas páginas dos periódicos de que falámos. Recordá-los a todos seria, porém, impossível. Mas, pelo seu 125º aniversário, gostaria de homenagear o jornal “Maria da Fonte” na memória do seu primeiro director, Azevedo Coutinho, que, para além de grande jornalista, foi também autor de uma interessante “História da Revolução da Maria da Fonte”[20] e de alguns outros trabalhos de grande interesse histórico e literário.
De entre os trabalhos de Azevedo Coutinho, permitam que aqui leia um trecho do seu poema “O Trabalho”[21], escrito propositadamente para ser declamado pelo autor num sarau em benefício dos operário sem trabalho que teve lugar no dia 24 de Abril de 1892 no Teatro S. Geraldo em Braga, poema que, alterada a data em que foi dado a público, continua perfeitamente actual:

“A falta de trabalho é mãe do latrocínio.
A fome leva ao roubo, e este ao assassínio.
O potente motor das grandes convulsões
Que fazem abalar os povos e nações,
É quase sempre a fome – o temeroso espectro
Que faz ruir um trono e faz quebrar um ceptro.

(…)
A lei da criação, a lei universal
Resume-se em Trabalho – o Bem oposto ao Mal!

A esmola é um alívio, e pode ser um vício;
O trabalho é virtude, um santo sacrifício.
É luz que espanta a treva, é luz no lupanar
É luz que regenera, é luz a cintilar!
Depressa foge o vício à vista do trabalho
Depressa o lavrador vai manejando o malho;
Enquanto pelo ar a voz da cotovia
Ressoa, cristalina, ao despontar do dia!

Dai trabalho ao artista, ao servo, ao proletário
Que assim lhes dareis vida, e pão no seu armário,
Deixando reflorir nos meigos corações
As rosas da virtude, as gratas afeições”.


[1] Licenciado em História e doutorando em História Contemporânea pela Universidade do Minho. Bolseiro a FCT e membro do CITCEM/UM.
[2] Esta comunicação foi proferida em Janeiro de 2011, na primeira sessão comemorativa do 125º aniversário do semanário local da Póvoa de Lanhoso “A Maria da Fonte”. Os outros dois palestrantes foram o Dr. Paulo Alexandre Ribeiro Freitas, director da Biblioteca Municipal/Casa da Botica, e a Doutora Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho. A informação contida neste texto que não esteja devidamente referenciada em notas de rodapé consta do livro: Coelho, José Abílio, Rascunhos da História. Apontamentos sobre a imprensa periódica na Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, ed. Do Autor, 1994.
[3] Chartier, Roger – As Práticas da Escrita, in “História da Vida Privada: Do Renascimento ao Século das Luzes”, Vol. 3, Lisboa, Edições Afrontamento, 1990, pp.113-164.
[4] ALVES, Luís Alberto Marques – O Ensino, in “Nova História de Portugal” (Dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques), Vol. X (Portugal e a Regeneração), Lisboa, Editorial Presença, 2004, p. 311.
[5] ALVES, Luís Alberto Marques – o. c., p. 313.
[6] FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro – O Liberalismo na Póvoa de Lanhoso. O Administrador do Concelho na Revolução da Maria da Fonte, tese de mestrado apresentada à Universidade do Minho, 2010, p. 50.
[7] O concelho da Póvoa de Lanhoso é hoje composto por 29 freguesias.
[8]. No seu artigo 24 do Capítulo III, afirma-se que” “podem votar na eleição das Camara Municipais os Cidadãos Portugueses, ou Extrangeiros naturalizados maiores de vinte e cinco anos, com domicílio de um ano no Cocelho, e que estando no goso dos seus direitos Políticos e Civis tiverem uma renda annual de cem mil réis, proveniente de bens de raiz, industria, emprego, ou commercio”. Cf. Código Administrativo Portuguez, Lisboa, Imprensa da Rua de S. Julião, 1837, p. 8.
[9] BASTOS, Paixão – No Coração do Minho: A Póvoa de Lanhoso Histórica e Ilustrada, Braga, Tipografia Henriquina a Valor, 1907, p. 98.
[10] O Castelo de Lanhoso, nº 3, de 18 de Junho de 1885, p. 1
[11] “A Folha Democrática”, nº 4, de 23 de Fevereiro de 1888, p. 1.
[12] Oliveira, A. Lopes de, Imprensa Bracarense, Braga, Livraria Pax, 1976, p.101.
[13] OLIVEIRA, A. Lopes de – O. C., p.151.
[14] O Povo de Lanhoso, nº 42, de 8 de Julho de 1911, p. 2.
[15] A Póvoa de Lanhoso, nº 1, de 7 de Dezembro de 1916, p. 1
[16] Cf. Coelho, José Abílio, Paixão Bastos (1870-1947). Vida e obra de um escritor de província, Póvoa de Lanhoso, ed. Terras de Lanhoso, 2007
[17] COELHO, José Abílio, O. c., p. 68.
[18] Poderá parecer estranho que por vezes o semanário apareça citado como “Maria da Fonte” e outras como “A Maria da Fonte”. Ao longo da sua história, este foi um subterfúgio utilizado por vários dos seus administradores. Quando o “Maria da Fonte” era temporariamente suspenso, o jornal apresentava-se nas bancas na semana ou semanas seguintes como “A Maria da Fonte”. Quando o tempo de castigo ou suspensão terminava, voltava ao título inicial. Esta situação repetiu-se por várias vezes. Vejamos apenas um exemplo: em 4 de Novembro de 1928 o jornal saía com o título “A Maria da Fonte”, sendo seu proprietário João Carvalho e seu director e editor o Dr. Manuel Alexandre Pereira. Em 9 de Dezembro de 1928, o jornal faz publicar uma breve nota onde se lê que tendo o “A Maria da Fonte” sido suspenso por trinta dias, saía a público o novo semanário “Maria da Fonte”. Na edição de 29 do mesmo mês e ano, volta ao título anterior, inserindo outra nota onde explica: “Reaparece hoje o ‘A Maria da Fonte”. Uma terra como a Póvoa de Lanhoso, onde este jornal pontifica há 36 anos, humilde mas sincera e honradamente, não deve nem pode prescindir dum jornal que trate desinteressadamente de a engrandecer, procurando fazer dela maior. Uma terra, por pequena que seja, que não alimente um jornal para defender as suas tradições, os seus interesses comerciais, industriais e agrícolas, é uma terra morta”. Mudara entretanto de director, que é agora Adelino Pinto Bastos.O proprietário continua a ser João Carvalho. A 6 de Janeiro de 1929, mantendo o título de “A Maria da Fonte” volta ao cabeçalho como director o Dr. Manuel Alexandre Pereira. A mudança de director ocorre também muitas vezes por razões políticas, quando este é castigado e impedido de dirigir o jornal por determinado tempo. A situação agravar-se-ia nas décadas de 1930-1970, pois a nomeação dos directores obedecia a aprovação superior.
[19] A data de fundação dos primeiros foi retirada da nossa monografia identificada na nota número dois deste texto. A data da fundação do “Castelo de Lanhoso” foi colhida no site da Biblioteca Nacional de Portugal através do endereço: http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp?session=12N01J66163L2.6679&profile=bn&uri=link=3100018~!1047556~!3100024~!3100022&aspect=basic_search&menu=search&ri=1&source=~!bnp&term=Fernandes%2C+Armando&index=AUTHOR [consulta em 11 de Janeiro de 2011].
[20] Coutinho, Azevedo, História da revolução da Maria da Fonte, Póvoa de Lanhoso, Editorial Ave Rara, 1997.
[21] Coutinho, Azevedo, O Trabalho. Poesia recitada pelo autor no theatro S. Geraldo, em Braga, no Sarau realizado a 24 d’Abril de 1892, em benefício dos operários sem trabalho, Braga, Imprensa Gratidão, 1892

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sobre a família de Lanhoso e o mosteiro de Fontarcada



José Abílio Coelho*
 

Introdução
Com este texto[1] pretendemos apenas ensaiar algumas ideias sobre a família de Lanhoso, instalada na “terra” do mesmo nome desde os primeiros séculos da “reconquista”, família que, como veremos no desenvolvimento, terá raiz no Conde Vímara Peres (presor do Porto a partir de 868)[2]. E que forjou o seu nome na designação das terras em que se fixou, cuja tenência exerceu por intermédio de vários dos seus membros e a partir da qual, nos séculos seguintes, deu origem a outras famílias através de bem conseguidas políticas de casamento. Em paralelo, e porque a um dos seus membros se ficou a dever a sua fundação, falaremos da vida do mosteiro de Fontarcada, mandado construir por D. Godinho Fafes em 1067[3] e posteriormente patrocinado pelos Lanhosos.
A proximidade de alguns dos de Lanhoso à corte, o que aconteceu por períodos não muito longos, levou D. Afonso Henriques a atribuir, em 1132, Carta de Couto ao mosteiro de que eram protectores[5], “que foi de frades Bentos”[6] até à sua extinção e transformação, por parte do arcebispo bracarense D. Fernando da Guerra, primeiro em igreja paroquial (1455) e, dez anos mais tarde (1465), em arcediagado da Sé de Braga[7].
Apesar da riquíssima e variada informação sobre este período da História (e até, especificamente, sobre a temática em estudo) que, especialmente ao longo das duas últimas décadas, foi publicada por autores como José Mattoso, José Marques, Avelino de Jesus da Costa ou José Augusto Pizarro (títulos indicados na bibliografia), e de outro tipo de fontes, transcritas de antigos documentos e dadas a conhecer por autores dos séculos XVII e XVIII como Frei Leão de São Tomas, António Carvalho da Costa ou Francisco Xavier da Serra Craesbeeck (constam também da lista bibliográfica), a verdade é que, até hoje, não existe um trabalho de síntese, um estudo uno e bem elaborado que permita uma leitura abrangente quer sobre o mosteiro de Fontarcada, quer sobre a família dos seus fundadores. É certo que a qualidade de construção da sua igreja românica, que por tardia nada tem que ver já com a fundação do cenóbio, levou, ao longos das últimas décadas, a merecidas, elogiosas e bem estruturadas referências em obras de fôlego, o mesmo acontecendo com a história do mosteiro na fase final da sua vida cenobítica e à que se lhe seguiu, enquanto arcediagado de Braga. O mesmo não acontece, porém, quando se pretende conhecer um pouco melhor aqueles que fundaram Fontarcada, como viveram e dominaram a Terra de Lanhoso ou como, dali, partiram e se instalaram noutros locais, e, depois de perderem influência junto da Cúria, a ganharam no espaço religioso quando, por exemplo, um dos seus membros chegou a deter a Mitra Compostelana.
Tentaremos, pois, tanto quanto possível e, como já referimos, limitados ao rascunhar de uma primeira abordagem, traçar uma linha sequencial, atando laços desfeitos, unindo peças avulsas, trazendo para mais perto aqueles que o espaço físico afastou, um pouco ao modo, aliás, daquilo a que aconselha José Mattoso quando, referindo-se à “escrita da História”, nos diz que “à medida que formos esboçando o plano veremos o pouco que está feito ou em vias de execução, para assim traçar o campo das articulações entre o que modestamente se esboça e o que ambiciosamente se imagina”[8].
Refira-se por último que, ao falar-se aqui, algumas vezes, noutras famílias e episódios históricos, estes servem apenas para contextualizar o tema e a época em estudo. Razão pela qual não aprofundamos esta informação marginal, que deve ser olhada apenas como suporte para se falar dos de Lanhoso e do mosteiro de Fontarcada.
É pois, com base nas fontes e bibliografia disponíveis, e certamente com uma boa dose de “ambiciosa imaginação”, que tentaremos pensar as ligações dos de Lanhoso ao Mosteiro de Fontarcada e de uns e outro à Terra de Lanhoso.

1. O Espaço Físico
1. 1 - A Terra de Lanhoso
Situada entre as Terras de Homem e Cávado, de Braga, de Vermoim, de Sande e de Guimarães[9], e estreitada entre dois dos principais rios do Baixo Minho, o Cávado e o Ave, a Terra de Lanhoso dos séculos XI e XII tinha, segundo José Mattoso, uma “área muito menor que a de Bouro e da Nóbrega, mas menos acidentada e mais fértil”[10]. Não deixava, assim mesmo, de se estender por um enorme território que ocupava quase todas as freguesias do actual concelho da Póvoa de Lanhoso, grande parte das que hoje pertencem a Vieira do Minho e algumas outras que vieram a integrar o concelho de Braga, como Sobreposta e Pedralva[11].
Desde o período romano que no alto do “monte Spino”[12], monólito granítico que Carlos Teixeira aventou o “maior da Península Ibérica”, existia uma fortaleza de estratégica vigilância à via Braga-Astorga[13], “a roçar o sopé do monte”[14]. Talvez se tratasse nessa fase inicial de um simples fortim, em madeira ou em granito, no qual as redondezas são férteis, construído pelos romanos ou mesmo anterior a estes, mas pela certa “fortaleza expugnável” como lhe chamam velhos textos[15].
Mais tarde, no mesmo local, de onde se avistam cinco concelhos, foi construído um castelo, o “Castelo de Lanhoso”, sobre o qual Carlos Alberto Ferreira de Almeida afirmou: “Implantado sobre uma colossal bola de granito, só acessível pelo lado do Sul, começou por ser uma pequena, forte e muito original fortaleza, dos finais do século XI, de tipo alcáçova, sem torre de menagem. O seu primitivo espaço interno estava dividido por duas filas de pilares nos quais se apoiaria um piso superior” que “possuía boas condições de habitabilidade. Tinha uma só entrada, ladeada por dois alongados mas estreitos cubelos (…). Porque a fortaleza se terá desmantelado, teve uma ampla reforma no séc. XV, adoptando, então, a forma de castelo gótico, com torre de menagem implantada sobre a cortina virada à banda de acesso”[16].

Castelo de Lanhoso: “fortaleza inexpugnável”, como lhe chamavam velhos textos
  
Contudo, e muito antes de o castelo que hoje conhecemos ser construído, existia já o castro de Lanhoso que, começando por ocupar a área mais plana do topo do monte “spino”, veio posteriormente a estender-se a terrenos socalcados na meia encosta ocidental[17], até atingir significativo tamanho ao alongar-se para ambas as margens do ribeiro Pontido[18], adentrando pelos limites da freguesia de S. Gens de Calvos. Em declarações recentes ao jornal “Terras de Lanhoso”, o arqueólogo e professor universitário Francisco Sande Lemos não hesitou em o classificar como um dos “castros mais importantes ao longo de toda a bacia do Ave”, comparando-o em grandeza aos de Vila Seca, Monte Padrão, Briteiro, Alvarelhos ou, já perto da foz do referido curso de água, ao de Bagum[19]. A importância desde castro viria a sair reforçada quando, em 2000, obras que decorriam numa pedreira sita no lugar da Quintã colocaram a nu o que restava de um “balneário atribuível à Idade do Ferro”, destruído por trabalhadores que pretendiam desmatar uma área que permitisse alargar o espaço de exploração de granito[20]. A qualidade desta construção — qualidade que corrobora a importância atribuída ao castro por Sande Lemos — acaba por ser atestada pelo historiador António Pereira Dias que sobre ele se pronunciou: “Pelos elementos dispersos que restaram do balneário, onde ficou bem expressa a maestria dos canteiros e pedreiros que nele trabalharam, parece-nos lícito afirmar estarmos em presença de um importante conjunto arquitectónico identificado no Entre Douro e Minho”[21].



Pedra Bonita do Balneário da Quintã, logo após a destruição

(fotografia de Mariana Sá Pereira)
A mesma pedra, depois de recuperada e exposta na Casa da Botica da Póvoa de Lanhoso
(fotografia de Mariana Sá Pereira)


Ora, como mais à frente se referirá, foi nesta área desde a Proto-História ocupada pelo Castro que, alguns séculos depois, terá sido construída uma das residências, acredita-se que a principal, da família de Lanhoso, no lugar ainda hoje chamado “Quintã”. As terras de cultivo e de bosque que pertenciam a esta “Quintã”[22] alargavam-se alguns bons quilómetros em redor, ocupando territórios das futuras paróquias de Lanhoso, Fontarcada, Calvos, Serzedelo, Oliveira e Galegos, assim se mantendo por algumas centúrias.
É provável que as terras se tenham vindo a dividir progressivamente ao longo dos tempos — dado, até, o desaparecimento da família de Lanhoso, como mais adiante se verá —, mas o núcleo mais próximo da “Paço da Quintã” manteve-se a ela unido, “numa só mão”, até ao século XIX. Pelos inícios da Centúria seguinte, (1900), grande parte dos enormes campos que pertenceram à “Quintã” dos de Lanhoso foram separados e constituídas pelo menos três grandes propriedades (as quintas da “Quintã”). Já na primeira metade do século XX, as terras foram mais repartidas ainda, encontrando-se hoje nas mãos de várias dezenas de proprietários. Certo é, porém, que o núcleo principal, onde se pensa ter existido a casa da família de Lanhoso, mantém o topónimo “Quintã”, constituído em lugar da freguesia da Póvoa de Lanhoso[23].

2. 2 - O topónimo Lanhoso
O topónimo Lanhoso deriva de “Laginoso”, dado, tanto a mole onde assenta a construção do seu castelo, como o terreno que o circunda, muitos quilómetros em redor, ser de composição maioritariamente granítica. Apesar de possuir nos seus baixios terras bastante produtivas de cereais, de frutas e de vinha, o elemento granítico nunca se encontra a grande profundidade podendo mesmo afirmar-se que, no Minho, não há outra terra onde se encontre tanta e tão exposta extensão de lajedos.

Topónimo Lanhoso, do “lagynoso” solo

A designação aparece-nos logo na primeira referência escrita a Lanhoso, respeitante à paróquia do mesmo nome e datada de 1086, onde se lê que se situa “subtus monte spino castro Laginoso (…)”[24]. O topónimo da sede administrativa seria adoptado para toda a vasta área ligada ao castelo, que se designou, sucessivamente, como “Terra” e “Julgado de Lanhoso”. Quando, em 1292, D. Dinis atribuiu à “Vila da Póvoa” Carta de Foral, chamou-lhe “mea popula de Lanyoso”[25]. Paulo Alexandre Ribeiro Freitas, autor de um estudo sobre as Cartas de Foral da Póvoa de Lanhoso (de D. Dinis e de D. Manuel), afirma que “é de notar que pela primeira vez, nos aparece em documentos a referência à Póvoa de Lanhoso (…), forma pela qual se denomina actualmente o concelho”, acrescentando que “fica desta forma bem explicita a origem toponímica do nome do concelho, a qual se induz pela necessidade sentida para a criação de uma Póvoa habitacional para povoar, explorar e possivelmente defender a zona, extremamente importante pela sua situação geográfica (entre Guimarães e Galiza) e dada a sua natural proximidade às cidades de Guimarães e Braga” O citado autor finaliza afirmando que a Carta de Foral atesta “a natureza militar da importância desta Póvoa de Lanhoso", e que "em inúmeros documentos [Alvarás Régios] nos aparece a referência à Póvoa do Castelo de Lanhoso”[26].
A passagem de Laginoso a Lanyoso e posteriormente a Lanhoso foi, pois, a evolução natural em termos linguísticos de um topónimo milenar, que tem por raízes, como se disse, as características geomorfológicas desta vasta área.

3. Famílias, Património e Poderes
3. 1 - A “Ribeirinha” e o Couto de Pousadela
Na primitiva área da Terras de Lanhoso existiram pelo menos três concelhos e vários coutos. No referente a concelhos, e para além do da Póvoa de Lanhoso, conhece-se a existência do de São João de Rei, incluindo freguesias do actual concelho da Póvoa de Lanhoso (as mais próximas das margens do Cávado) e do antigo couto de Pousadela[27]; e a do concelho de Penafiel do Soaz, cuja sede se situava na freguesia de Frades (no alto do monte de Penafiel, depois “monte de São Mamede”), incluindo freguesias hoje pertencentes a Póvoa de Lanhoso e a Terras de Bouro[28].
O concelho de S. João de Rei, embora pequeno e pobre mas em cujas terras caçaram reis antes da fundação da nacionalidade[29], manteve-se sem intermitências até às reformas do século XIX, sendo nessa altura integrado no da Póvoa de Lanhoso. Quanto a Penafiel de Soaz, as indicações existentes não são de todo claras, estando ainda por estudar devidamente. Sabe-se que a freguesia que lhe serviu de sede (Santo André de Frades), esteva integrada no couto de Parada de Bouro em 1706, embora o concelho, já com a designação de Ribeira de Soaz, apenas tenha sido extinto em 17 de Fevereiro de 1852. Acredita-se que a sua sede tenha sido mudada, no século XV ou XVI para a freguesia de Parada de Bouro, hoje do concelho de Terras de Bouro.
No referente a coutos, conhece-se a existência de uns quantos, estando devidamente documentados os de Fontarcada, Pousadela, São Pedro de Cerzedelo, Lageosa e Pedralva[30].
De entre eles, destacamos o de Pousadela, que teve significativa importância histórica, pois terá sido doado por D. Sancho I em testamento à sua barregã D. Maria de Pais Ribeiro, a “Ribeirinha”, descendente de outra família de povoadores de territórios que pertenceram à Terra de Lanhoso — a de D. Moninho Ozores, coetâneo do Conde D. Henrique de Borgonha[31].
A cabeça desta família estará no Conde de Cabreira e Ribera[32], que teve residência no Vale de Geraz, na ainda existente “Torre dos Machados de Geraz”, de que trata a obra com o mesmo nome da autoria de Arlindo Ribeiro da Cunha[33]. Dela descendem, para além da já citada D. Maria Pais Ribeiro, Martim Moniz (referido pelo Conde D. Pedro de Barcelos como “herói” da conquista de Lisboa, acto de valentia que, desde Alexandre Herculano, começou a ser posto em causa pelos historiadores, tese corroborada por José Augusto Pizarro[34]), Martinho Peres (o primeiro que usou o apelido de Machado[35]) e, já nos finais do século XIV ou início do XV, D. Briolanja de Azevedo, que foi esposa do grande poeta renascentista Sá de Miranda[36]. Esta senhora detinha vastas propriedades no (então) concelho de S. João de Rei (hoje Póvoa de Lanhoso) e no vizinho concelho de Amares, em cuja Quinta da Tapada Sá de Miranda residiria significativa parte da sua vida e onde viria a falecer, em 1558.
Muitos dos membros da família desta Casa e Torre de Geraz foram frequentadores da Corte dos nossos primeiros reis, como é o caso dos já citados Martim Moniz e de D. Maria de Paes Ribeiro. Outros (na sua evolução para Berredo, como se verá no título seguinte), dividiram com os de Lanhoso (de quem eram aparentados) a chefia daquela “Terra”, tendo Paio Moniz Ribeiro exercido a tenência entre 1200 e 1202 e Martim Pais da Ribeira ocupado o mesmo posto entre 1222 e 1236[37].

3. 2 - Os Pereiras de Berredo
Outra família com importância na Terra de Lanhoso medieval, e que daí irradiou, através de bem conseguidas estratégias de casamento, até à frequência da Corte, foi a dos Pereiras de Berredo, aparentados com os Ribeiros da Torre de Geraz[38]. Trata-se de um ramo desta última família, descendente de Moninho Ozores de Cabreira[39] e de D. Boa Nunes de Grijó. Este casal, apesar de possuir vastíssimas propriedades em Grijó, herdadas por D. Boa Nunes, teve-as também no Vale de Geraz do Minho da Terra de Lanhoso, talvez por as ter herdado de um avoengo de sangue galego que aqui se tenha instalado. A Casa que possuíam em Geraz ainda existia no Século XIX.
A exemplo dos Ribeiros, também os de Berredo tiveram estreitas ligações com a Corte, quer através de Paio Moniz Ribeiro (que foi rico-homem de D. Sancho I e seu alferes-mor entre 1199 e 1202), quer de seu filho Martim Pais da Ribeira (rico-homem de D. Afonso II e de D. Sancho II)[40]. A vida religiosa também atraiu alguns dos descendentes de Moninho Osores, como foi o caso de Martim Martins de Cabreira (que foi arcediago de Braga por cerca de 1250); de Elvira Martins de Berredo, que foi freira em Lorvão (1264); ou Alda Martins de Berredo, que o foi freira no mosteiro de Arouca[41]. Nem todos exerceram, contudo, actividades relevantes nas hierarquias sócio-político-religiosas: o “Livro de Linhagens” do Conde D. Pedro[42], identifica uma Maria Moniz de Cabreira “que nom foi casada, mais foi puta e fez um filho que houve nome (?), e nunca lhe souberam padre (…)”[43].
Alguns membros desta família Ribeiro-Berredo dividiram com os de Lanhoso a chefia da Terra do mesmo nome, tendo o já citado Paio Moniz Ribeiro exercido a tenência entre 1200 e 1202 e seu filho Martim Pais da Ribeira[44] ocupado o mesmo posto entre 1222 e 1236[45].
Já nos finais do século XIII, um outro membro desta família, D. Rodrigo Gonçalves Pereira de Berredo, sendo Alcaide do Castelo de Lanhoso, viria a protagonizar uma das mais fabulosas (exageradamente fabulosa...) histórias a que a velha fortaleza assistiu. O relato dessa passagem vem narrada pelo Conde D. Pedro no seu “Nobiliário”, onde conta que, estando D. Rodrigo ausente em batalha, foi avisado de que sua esposa, D. Inês Sanches, lhe era infiel no seu alcácer com um frade do convento de Santa Maria de Bouro. Conhecedor da traição da mulher, o Alcaide regressou pela noite e lançou fogo ao castelo, sendo tudo consumido pelas chamas. “Ela, estando no castelo de Lanhoso, fez maldade com um frade de Bouro; e D. Rodrigo foi disso certo: e chegou ahi, e cerrou as portas, e queimou-a ela e o frade, e homens e mulheres, bestas, cães, gatos e galinhas e de todas as coisas vivas; e queimou a câmara e panos de vestir, e camas, e não deixou cousa móvel; e alguns lhe perguntaram, porque queimara os homens e mulheres: ele respondeu que aquela maldade havia 17 dias que se fazia; e que não podia ser que tanto durasse, sem que eles não entendessem alguma coisa, em que pusessem suspeita; a qual suspeita deviam descobrir”[46].
Este D. Rodrigo Pereira, após a vingança contra a esposa adúltera e o seu amante, casar-se-ia em segundas núpcias com D. Sancha Henriques de Portocarreiro e, entre os descendentes ilustres deste seu segundo casamento, contam-se o arcebispo bracarense D. Gonçalo Pereira que, por sua vez, foi avô do Condestável D. Nuno Álvares Pereira[47].

4. A Família de Lanhoso e o Mosteiro de Fontarcada
4. 1 - A Família de Lanhoso
Embora tenhamos começado por falar de outras importantes famílias senhoriais que tiveram ligação a este espaço, foram com certeza os de Lanhoso os primeiros a instalar-se na área geográfica estreitada entre os rios Cávado e Ave — a Terra de Lanhoso.
Sobre esta família de ricos-homens, é grande a confusão que reina nas fontes escritas. Quem primeiramente refere tal confusão é Frei Leão de S. Tomás, no Capítulo X da “Beneditina Lusitana”[48] e no que concerne à fundação do mosteiro de Fontarcada, dizendo: “Se o curioso leitor achar alguma contrariedade no Conde D. Pedro nestes dois lugares, a saber que no primeiro título diz que Godinho Fafes filho de Dom Fafes Serrazim, o que morreu em Águas Mayas, junto a Coimbra, diante de seu Rei Dom Garcia[49], e filho de sua mulher Dona Ouroana de Bragança, foi o que edificou o mosteiro de Fonte Arcada, e logo no título trinta e nove diz que o que fundou o Mosteiro de Fonte Arcada, e que o coutou foi Dom Godinho Fafes o Velho filho de Dom Fafes Luz e de sua mulher Dona Froile Viegas, se nestes dois títulos (como digo) achar contrariedade, pode-lhe dar a solução, ou explicação, que melhor lhe parecer”.
As referências contidas nesta descrição da “Beneditina”, e mais tarde corroboradas por outros autores, não são assim tão confusas à luz do actual conhecimento, pois sabemos hoje que, como mais à frente se verá, o mosteiro de Fontarcada foi fundado no ano de Cristo de 1067 por D. Godinho Fafes, o “Velho”, filho de Fafes Serracins de Lanhoso, e coutado a outro Godinho Fafes, bisneto do primeiro, no ano de 1138.
Voltemos, contudo, um pouco atrás para nos perguntarmos quem foi D. Fafes Serracins? Um nobre galego, chegado tardiamente às terras de Entre Douro e Minho, como aventam alguns autores, ou um rico-homem nascido já nestas paragens, como afirmam outros? A dúvida foi levantada ao longo de décadas e subsiste, embora a historiografia das últimas décadas, especialmente depois da publicação de um conjunto de trabalhos sobre a nobreza medieval portuguesa da autoria de José Mattoso, tenha começado a fazer mais um pouco de luz sobre o assunto.
Sem se preocupar com a questão desta família em particular, mas inserindo-a num contexto mais vasto, que era o todo do Condado Portucalense ao tempo da Fundação da Nacionalidade, começaram a ser propostas árvores genealógicas que nos permitem uma leitura muito mais clara, mas nem por isso definitiva.
Vejamos as propostas existentes.

4.2 - Família Galega ou descendente de Vímara Peres?
José Mattoso identifica, desde muito cedo, a família de Lanhoso como uma das mais importantes residentes no território que viria a ser Portugal.
No seu livro “Ricos Homens, Infanções e Cavaleiros”[50], e após dissertar sobre a família condal que ocupou territórios no Entre Douro e Minho — a do presor do Porto, Vímara Peres — este autor fala-nos de algumas das “grandes famílias de Infanções”[51], através das quais explica o processo de constituição da nobreza portucalense que precedeu a fundação da Nacionalidade. As primeiras cinco dessas importantes famílias, que reuniam as características de deterem “o poder fundiário, militar, judicial, senhorial e simbólico”, eram identificadas como os Sousãos, os Braganções, os da Maia, de Baião e de Riba d’Ouro. Mas, logo depois, acrescenta o mesmo autor: “Reportando-mos ao período da fundação da nacionalidade, são estas [as cinco atrás referidas] as famílias de origem portuguesa que ocupam os postos cimeiros da administração regional e os cargos curiais”, mas adianta que se encontram “outras famílias que atingem o mesmo nível, mas parecem ser de origem mais recente, ou procederem de ascendência galega”. Entre as de origem mais recente contam-se, segundo este ilustre medievalista, “além de outras as dos Silvas, Fafes, Lanhosos, de Penagate, da Várzea e Velhos”[52]. Não nos dá, no entanto, qualquer explicação para o aparecimento desta família de Lanhoso.
Vem a ser António Leite Lobo, citado por José Augusto Pizarro[53], a colocar a hipótese (ao que afirma este último autor, “de forma bem fundamentada”) de Fáfila Serracins descender directamente do Conde Vímara Peres, apresentando o seguinte esquema:

VÍMARA PERES (868-873) > LUCÍDIO VIMARANES (887-922) >
ALVITO LUCIDES (915-973) > LUCÍDIO ALVITES (926-968) >
FÁFILA LUCIDES I (995) > SERRACINO FAFES (+a. 1079) >
FÁFILA SERRACINS (1068-1071) > GODINHO FAFES (1085) >
LUCÍDIO GODINS (1109) > FÁFILA LUCIDES (1103-1117)


Esta proposta vem, de algum modo, dar razão a um manuscrito de Gaspar Álvares de Lousada, do qual seguidamente se falará.

4.3 - O manuscrito de Gaspar Álvares de Lousada
Intitulado “Godinhos”, veio a público em 1977, através de Andrêa da Cunha Freitas[54], um manuscrito de Gaspar Álvares de Lousada[55], onde este último afirma que Fafes e Godinhos procederão todos de um mesmo tronco, “que foi D. Fafes Serrazim natural da terra de Lanhoso de pais e avós”.
Talvez escrito em Braga, quando Lousada ali se encontrava ao serviço do Arcebispo D. Fr. Agostinho de Jesus a organizar o Arquivo da Mitra Primaz, diz-nos ainda Cunha Freitas sobre o manuscrito que é composto de 11 páginas, in fólio, que está datada de 28 de Outubro de [15]98 e que “foi feita sobre documentos do mosteiro de Fonte Arcada”, embora acrescente que “infelizmente [está] incompleto”[56].
No manuscrito[57], Lousada tenta explicar a já referida confusão existente no “Livro Velho de Linhagens” do Conde D. Pedro, e parece não ter dúvidas sobre a naturalidade do primeiro da linhagem dos de Lanhoso, afirmando: “Mostra-se mais que era D. Fafes Serrazim natural da terra de Lanhoso pois ficou ao serviço del Rey D. Gracia (sic) de Portugal, como seu vassalo, e que tinha seu património em suas terras, que era entre Douro e Minho, por estas partes de Lanhoso, e Braga, assim como o cide Ruy Dias e o conde D. Gracia (sic) de Cabra, e o Conde D. Nº de Lara com outros muitos ficaram de baixo da Vassalagem del Rey D. Sancho de Castela, seu irmão ao tempo que el Rey D. Frº, o 1º pay destes dous Reys, e de D. Aº, o 6º repartio entre eles seus estados”[58]. Lousada indica o ano de 1101 como o da batalha em que, na guerra entre os dois irmãos, terá morrido D. Fafes Serracins de Lanhoso.
No esquema de António Leite Lobo que atrás se reproduz, vem indicado que D. Sarracino Fafes morreu antes de 1079, data que não coincide com a apontada por Lousada. Mas pode ser que a data adiantada por Lousada esteja baseada na Era de César (fala em ano, sem especificar) e a de Leite Lobo no Ano de Cristo. Assim se explicaria, salvo melhor opinião, a diferença de 22 anos indicada pelos diferentes autores, embora seja preciso ter em conta que a referência de Leite Lobo refere que foi “antes de 1079”.

4.4 - A “Quintã” de D. Fafes Serracins de Lanhoso
D. Fafes Serracins e, posteriormente, os seus descendentes, tiveram muitas propriedades para além das fronteiras da Terra de Lanhoso. Dentro desta divisão administrativa, é certo que possuíram “casais” em quase todas as paróquias, como o indicam sucessivos autores. A “Corografia Portugueza” afirma que o “Conde Dom Fafes Serrazim (sic) de Lanhoso (…)” teve “solar & morada” em S. Martinho de Galegos”[59]. É provável que ali possuísse uma ou mais propriedades, como as teve em muitas outras freguesias. Quer José Mattoso, quer mais recentemente José Augusto Pizarro, identificam terras honradas pelos seus descendentes em quase todas as paróquias da Póvoa de Lanhoso e mesmo muito para além das fronteiras deste concelho.
Contudo, a sua “Quintã”, situava-se a pouco mais de mil metros do Castelo de Lanhoso, cuja tenência pertenceu a vários dos seus descendentes.
No título XXII das “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho”[60], dedicado ao couto de Fonte Arcada, Craesbeeck acusa o autor da “Corografia Portugueza” de errar nesta afirmação, já que “se acha que viveo na sua quinta de Bagães (que he dentro desta freguesia deste couto),  en humas casas, que ainda hoje se concerva huma escada muito bem feita de pedra, de outo palmos de largo cada degrao, com dous patins, hum no meio e outro na entrada do sobrado, na volta que faz; porquanto, en todos os tombos, que se achão no cartorio deste arcediagado, se faz menção da dita quinta de Bagães (que hoje chamam a Quintam), em cujo citio se vem vestígios de caza e Torre; e no Tombo que se fez dos bens do dito arcediagado, no anno de 1592, a folha 123, se achão estas palavras:

— E AS CAZAS E ERDADES DESTA QUINTA SÃO AS QUE SE SEGUEM: CONVEM A SABER, HUMA CAZA DE TORRE ASOBRADA, ETC —“

Efectivamente, é da tradição oral que, no lugar da Quintã (hoje lugar independente do de Bagães, referido por Craesbeeck), se situou em tempos imemoriais uma casa com torre que terá pertencido à família dos de Lanhoso. O próprio Camilo Castelo Branco usa essa informação num dos seus romances, cujo enredo se passa integralmente na Póvoa de Lanhoso e intitulado o “Demónio do Ouro”[61], que nos permitimos transcrever, ainda que a descrição não passe de mais uma das brilhantes páginas de ficção saídas da pena do mestre de Ceide[62]:

“E o que ele não via ao dobrar uma colina donde se enxerga entre verduras a igreja de Rendufinho a alvejar!
Sobranceando a Póvoa, negrejava o castelo de Lanhoso, erecto em rocha, recortado de ameias, lardeado de bastiões, golpeado de seteiras, ali perpetuado, rebatendo as injúrias de nove séculos, imagem, símbolo da raça forte que, ao passar por lá, empedrou um dos seus gigantes, como vigia eterna das gerações que se esforçaram a camartelo da sua vergonhosa efeminação. Ali o primeiro Afonso
... a mãe, que tão pouco o parecia
... em ferros ásperos atava.
Lá foi que D. Rodrigo Gonçalves Pereira de Berredo, esposo atraiçoado por um frade de Bouro, pegou fogo pelos quatro ângulos, assando a esposa, o frade, os criados, as bestas, tudo, criminosos e inocentes, desde a adúltera até ao frade, o frade talvez inocentíssimo, embora o genealógico D. Pedro, conde de Barcelos, mentiroso como todos os linhagistas, referindo o caso, duvide da inocência do monge.
Ao nascente surgia dentre copas de carvalheiras seculares a Torre dos Godinhos, onde vivera o conde D. Fafes Serrazim de Lanhoso, o rico-homem, pai de D. Godinho, e avô de D. Fafes Luz, fundador de Fafe. Não vá o leitor, enganado por mim, à cata da torre solarenga dos Godinhos. Há menos de trinta anos que o paço feudal foi aluído. Da pedra enegrecida por dez séculos, e talvez esquadrinhada por mãos de suevos, fez-se a parede de um chavascal, e uma cozinha de casa alargatada de azulejos, onde provavelmente mora e engorda um sujeito que se serve com os últimos descendentes de D. Fafes”.

Em linha recta, da “Quintã” da família de Lanhoso ao “lugar fértil e aprazível”[63] onde D. Godinho Fafes fundou o mosteiro de Fontarcada, distam pouco mais de três quilómetros. Essa área de bosques e outeiros pertencia aos de Lanhoso e foi a escolhida para ali ser implantado o cenóbio por eles protegido.
Aliás, para além do arroteamento de parte desse mons, trabalho a que se costumavam dar os membros da Ordem de S. Bento na sequência do ensinamento do grande Patriarca — “Ora et Labora” — pouco deve ter mudado nos séculos seguintes, pois ainda assim era em meados do século XVIII. Nesta altura, diziam os responsáveis paroquiais ao “Inquérito de 1758 do Padre Luís Cardoso”, que a igreja da paróquia de Fontarcada está “na cova de um pequeno monte que lhe fica à parte do norte, sendo pelas mais partes campos”. Para além disso, concluem os signatários da informação ao Inquérito, “tem junto de si somente as casas das residências dos párocos dela e Recolhimento da Renda e poucas mais”[64].
Razões da escolha deste local para a construção apenas se adivinham pelas palavras de Ferreira de Almeida: “(…) é por demais sabido que a escolha de um lugar, para edificar um templo não se faz [no período do românico] arbitrariamente”[65]. A escolha estava sempre relacionada, quando se tratava de paroquiais, com o habitat que as rodeava ou, nos casos dos mosteiros ligados a Ordens, a um lugar onde a floresta ou os cursos de água eram presença efectiva.
No caso de Fontarcada, talvez a escolha se tivesse feito pelo facto do sítio ser “aprazível” ou por que ali houvesse, não um rio, que não existe assim tão perto, mas uma fonte brotando, uma nascente de água cristalina que “chamasse” ao local os frades que ali pretendiam instalar-se. Frei Leão de S. Tomás viria a afirmar, na sua “Beneditina” que o “mosteiro está situado em hum lugar muy fresco (…), junto a huã fermosa deveza de carvalhos por meyo da qual vay a estrada publica pêra Castela”[66]. Quanto à designação do mosteiro, há autores que referem ter existido ali uma grande fonte em arco (de onde derivaria “Fonte Arcada”), mas o mais provável é que, muito antes dela, já ali existisse uma nascente de água cristalina.
Sobre a existência desta fonte, encontrámos, numa nota de rodapé de uma monografia dada a público em 1907, uma pequena descrição nesta forma: “O nome de Font’ Arcada vem-lhe duma antiquíssima fonte, em forma d’arco, dárquitectura gótica, elegantemente feita de pedra fina, e que existia na cerca pertencente aos frades. Tinha esta obra admiráveis emblemas, entre os quais a flor de liz e outros belos adornos, ao centro um nicho ladeado de diferentes lavores, e ao fundo um tanque quadrilongo. Toda esta maravilhosa obra foi, infelizmente, demolida em 1884 por D. Ana Cristina de Noronha Portugal, então senhora da Quinta da Renda”[67]. Esta Quinta da Renda era a propriedade mais próxima do mosteiro[68].

4. 5 - A Fundação do Mosteiro de Fontarcada
Fazendo, pois, fé nas fontes disponíveis, o mosteiro de Fontarcada foi edificado no ano de Cristo de 1067, por “um fidalgo ilustre” chamado Godinho Fafes. A data não sofreu até hoje qualquer contestação e D. Gabriel de Sousa, antigo Abade do mosteiro beneditino de Singeverga, dizia, numa conferência produzida em Póvoa de Lanhoso, que, apesar de Frei Leão de S. Tomás ser muitas vezes alvo de suspeição por não aduzir documentos, que “no caso vertente [a edificação de Fontarcada], reconhecemos que não andará muito longe da verdade, pois que data de uns anos depois a primeira referência documental conhecida: do Censual do Bispo D. Pedro”. E remata: “Se por 1084-1091 tinha de dar um jantar à Mitra bracarense, é porque desde há alguns anos existia e funcionava”[69]. Acresce a esta informação o facto de o Conde D. Henrique (1095-1112) ter doado ao mosteiro de Fontarcada “unum casal in villa de Garfi”.[70]
Sabe-se que foi cenóbio de frades da Ordem de S. Bento e que foi seu primeiro Abade D. João, que as mesmas fontes dizem ter vivido e morrido com fama de santidade. Francisco Craesbeeck, na já citada obra “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho”, fazendo referência a este Abade, D. João, diz que se confirma a “memória” de Frei Leão de S. Tomás, e cita uma inscrição que diz ter encontrado no mosteiro: — “Kalendas Augusti era MCXX / Obit pisimus vir Joannes primus / abbas hujus monasterii, que hanc / eclesium de novo opera edificavit / cujus anima requiescat in pace. Ámen.”[71]
De seguida, este autor faz referência aos Abades que se seguiram ao citado Frei João, identificando outros catorze — o último dos quais, Mestre Fernando, renunciou ao cargo, o que levou o arcebispo D. Fernando da Guerra a extinguir o mosteiro e a transformá-lo no Arcediagado tão criticado pelo autor da “Beneditina”[72]. Não é contudo uma listagem verosímil, pois, por exemplo, citando como primeiro Abade a D. João, que terá morrido na “Era de Augusto” de 1120 (AD 1082), dá-nos o segundo abade como citado num documento de 1174 da “Era de Cristo” — ou seja, passados cerca de um século sobre a morte do primeiro!
Quanto ao mosteiro em si, deve ter começado por ser de pequena dimensão. Esta é também opinião do já citado D. Gabriel de Sousa que, em palestra proferida na Póvoa de Lanhoso, afirmava: “Não foi mosteiro grande. Mas prosperou, bons duzentos anos, ao longo dos séculos XII e XIII. No século XIV entrou em crise, que a condição da natureza humana dificilmente aguenta firme e tensa a corda da disciplina”[73]. Contudo, não existem estudos arqueológicos que permitam avaliar a sua dimensão (se dele ainda restarem vestígios soterrados) e, hoje, pouco existe de visível que nos permita avaliar como era o primitivo cenóbio.

A igreja de Fontarcada no seu estado actual. Quase todas as casas visíveis foram construídas nos séculos XVI, XVII e XVIII. Mas não há nenhum estudo que o sustente


A igreja “romano-gótica” hoje existente, é de construção bastante mais tardia que a data apontada para a fundação do mosteiro (1067), sendo opinião de Ferreira de Almeida que terá sido edificada pelos meados do século XIII[74]. Aliás, também esta opinião de Ferreira de Almeida vem, de alguma forma, reforçar o que acima é referido por D. Gabriel de Sousa sobre a prosperidade do cenóbio neste período (séculos XII e XIII), já que se trata de um templo de significativas dimensões — se comparado com outros do mesmo período existentes na região de Entre Douro e Minho pertencentes à mesma Ordem Beneditina —, e apresenta excelente (e caro) trabalho de mestres-pedreiros

4. 6 - Couto de Fontarcada
As fontes disponíveis indicam-nos, quando os Abades do mosteiro de Fontarcada são identificados através do patronímico e não apenas com o nome próprio, que muitos deles pertenceram à família do fundador. É pois provável que os de Lanhoso estivessem divididos por dois campos que se complementavam: no mosteiro, os “oradores”; na política, na tenência da Terra ou junto da Corte, os “defensores”.
Terá sido, aliás, dada a proximidade dos descendentes (bisnetos) do fundador do mosteiro a D. Afonso Henriques que o rei-fundador, no mês de Janeiro da “era de MCLXX”[75] (AD 1132), atribuiu Carta de Couto ao mosteiro de Fontarcada.
Sendo certo que, desde cedo (século XI) estiveram ligados à Cúria através da figura de D. Fafes Luz (ou Fáfila Lucides[76]), que é aprontado como Alferes-mor do Conde D. Henrique, “os senhores de Lanhoso, durante o século XII, enquadram-se no grupo de famílias mais poderosas do reino, como ricos-homens. Os dois filhos daquele [D. Fafes Luz], Godinho Fafes II e Egas Fafes I, frequentaram a corte de D. Afonso Henriques; o primeiro como tenente de Lanhoso (1132), e o segundo como confirmante de diplomas régios (1146-1160)”. Ora, é exactamente por esta altura (1132) que Afonso Henriques faz doação da Carta de Couto a Fontarcada, invocando nela Godinho Fafes (bisneto do fundador homónimo), sobre quem afirma que: “felizmente e fielmente te tornaste meu servidor, o que muito me agrada”.

A amarelo, as freguesias que integraram o primitivo couto de Fontarcada
Pedra de demarcação do couto, actualmente exposta na freguesia de São Gens de Calvos

Esta Carta de Couto encontrámo-la transcrita nas “Memórias Ressuscitadas de Entre Douro e Minho”[77], afirmando o autor, Francisco Xavier da Serra Craesbeeck, que consta de um pergaminho que estava (1726) no Cartório do Arcediagado de Fontarcada, e “he hum treslado authentico, tirado de hum Tombo, passado em Guimarães”, que “conthem o seguinte: ‘Saibão todos, que em presença de mim Giraldo Esteves, Tabelião de Guimarães, e das testamunhas ao diante escritas, em Guimarães, três dias de Fevereiro da era de mil tresentos e sesenta e dous anos [AD 1324], perante Estêvão Pães, Juis da dita villa, Fernão Martins, Priol do mosteiro de Fonte Arcada, mostrou huma carta de privilegio, que desia que era e desia que, temendo-ce de se perder por agoa ou fogo, ou por outra maneira, e por rasão que Nosso Senhor el Rei mandava que todos aquelles que tivessem coutos, se lhe mostrassem por onde os havião: por onde pediram a mim dito tabalião que lhe desse o treslado do dito privilégio, com meo sinal; e pedio ao dito juis que desse hi sá authoridade, que lhe desse delle o treslado; e eu tabalião dei-lhe o treslado, e como era escrito, segundo a mim parecia, do qual o theor tal he:

“In nomine Sanctae et Individuae Trinitatis, Patris et Filii ac Spiritus Sancti, trinitas indivisa quae nunquan erit finienda, sed permanens per infinita saecula saeculorum, amem. Id circa ego Egregius Infans Dominus Alfonsus bonae memoriae, magni Adefonsi Imperatoris Hispaniae nepos, Comitis Henrici et Regina Tharesiae filius, in honorem Sancti Salvatoris et beatae Virginis Mariae, pró remédio animae meae et pró te Godino Fafile, qui mihi bene et fidiliter servitium fecisti, quod mihi bene placuit; facio cautum illo monasterio de Fonte Arcada. Sunt autem hujus cauti termini per ipsum rivulum Arcozello, quomodo discurrit usque ad illam petram de Uchias, et inde per Penela de Ressinda, inde per mamullas, et inde quomodo discurrit arrugium de Paredes in Gamoncto, onde inter Thaide et Simanes et Faritmillo termino de Olivaria, cum Vale Bono, et inde quomodo dividitur inter Naci et Vale Bono et inde inter Fonte Arcada et Naci et inde per ipsum terminum inter Calvos et Naci et inter Calvos et Frades et inde ad illum portum de Soutello et inde per ipsum rivulum de Arcuzello, in quo permitus inquoavimus. Si autem aliquis, tam extraneis, quam de propinquis, hoc cautum, quod ego in honore Sancti Salvatoris, pró remédio animae et pró Godino Fafile, feci, irrumpere voluerit, quod fieri nom credo, illi monasterio, vel qui vocem suam pulsaverit, quingentos sólidos pariat et insuper sit excomunicatus et a Sanctae Matris Eclaesiae segregatus et cum Juda traditore in palatino Gehaennae habeat habitaculum. Facta carta testamenti in honore Sancti Salvatoris pro remedio animae meae et te Godino Fafile. Dante superius comemoravimus mense Januário sub era de MCLXX. Ego Egregius Infans Dominus Alfonsus hoc cautum própria manu robor / / qui tunc temporis erat Pelagius Bracharensis Archiepiscopos / / Munius Ozores. Egas Monici, Fernandus Cativus Alferis, Ermigius Monis Majordomus Curiae, Petrus Cancelarius Infans, para testetunhas, Petrus, Junius, Pelágio…”[78]


Pela Carta de Foral procurámos identificar topónimos, locais, cursos de água. Alguns dos topónimos desapareceram, especialmente os que se referiam a lugares. Mas muitos outros mantiveram-se, nomeadamente os de alguns lugares e os de todas as freguesias citadas. Ora, essa identificação, permite-nos fazer uma ideia aproximada da dimensão do Couto de Fontarcada (ver mapa abaixo). Integrava as (actuais) freguesias de Fontarcada, Taíde, Oliveira, Soutelo (hoje do concelho de Vieira do Minho), Póvoa de Lanhoso e Calvos[79].
Mais tarde, nos séculos XIV, XV e seguintes, após a redução do antigo mosteiro a igreja secular e a Arcediagado, outras paróquias viriam a ser “coladas” a Fontarcada, não ao Couto, mas à sua igreja paroquial. É o caso de S. Martinho de Galegos (do Arciprestado da Póvoa de Lanhoso) e de Santa Marinha de Arosa (do Arciprestado de Guimarães).

4. 7 - Declínio da Família de Lanhoso
Apesar da importância e destaque que teve no século anterior, quer no governo da Terras de Lanhoso quer pela presença na Corte, os de Lanhoso vieram a perder “o prestígio e a influência política” a partir do século XIII[80].
O mesmo não aconteceu numa outra vertente, a religiosa, na qual, durante todo o século XIII, alguns membros da família vêm a atingir lugares de grande destaque. São dignos de registo os casos de D. Gonçalo Viegas de Lanhoso, que foi o primeiro mestre da Ordem de Avis (com toda a influência que o cargo permite adivinhar); D. Egas Fafes Lanhoso II, que, para além de cónego (1227) e Arcediago de Braga (1129-1242), foi bispo de Coimbra (1248-1267) e arcebispo de Santiago de Compostela (1267-1268); Martim Fafes de Lanhoso, que foi Abade do poderoso mosteiro de Refojos de Basto; ou Fernão Soares Fafes, que foi tesoureiro, cónego e Deão da Sé de Coimbra[81].
No entanto, embora sem a influência de outrora, muitos outros membros da família mantiveram-se próximos da coroa, como “cavaleiros” ou “escudeiros da casa real”.
Os de Lanhoso haviam de se dividir em dois ramos: os Lanhoso-Altero e os Teixeira, de quem muito bem trata a tese de doutoramento de José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, intitulada “Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogia e Estratégias (1279--1325).

4. 8 - As propriedades do mosteiro de Fontarcada
As Inquirições de Afonso II (1220) fazem vastíssimas referências a propriedades que o mosteiro de Fontarcada possuía não apenas na Terra de Lanhoso, mas em muitos outros concelhos de toda a região de Entre Douro e Minho[82].
Logo no tocante ao próprio cenóbio beneditino — “De Monasterio de Fonte Arcada” — e no que respeita a “Regalengos”, os jurados “dixerunt quod Rex nullum habet ibi Regalengum”[83]. No tocante a “Foros e Dádivas”, os jurados disseram “quod de hereditate de Guilufo j. sextarium panis. Et de hereditate de Pelagio Sentiiz ij. Cúbitos de bracali pró fossadeira, — Interrogati si erat aliquod negatum ibi, dixerunt: non”[84]. No referente a “Padroados”, os “jurati dixerum quod Rex non est patronus”[85] e, finalmente, quando se fala em “Bens e Ordens”, Fonte Arcada aparece como proprietária de dezenas de propriedades, espalhadas por todas as paróquias da Terra de Lanhoso. Apenas como exemplo, note-se que, em Calvos, possuía “XViij. casalia”, em Santa Maria de Rendufinho “Viij. casalia et ij casas” e em S. Salvador de Rossas (hoje concelho de Vieira do Minho), “xvj. casalia et médium”[86]. Na área circundante da cenóbio, os jurados disseram que “quod Monasterium habet ibi bonas senarias, xvj. casalia”[87].
Neste aspecto, também encontramos referências no já citado manuscrito de Gaspar Álvares de Lousada, que nos fala em propriedades de Fontarcada por paróquias de quase todo o baixo Minho, terminando por referir que “tem o couto deste mostrº sua iurdição do tempo del Rey D. Aº Anriques pª qua como consta da doação acima referida, põem o Arcediago iuiz, e mordomo q conhece das causas, vão a elle per apellação, tem de comprido méa legoa o mesmo de Largo, tem 1500 caseiros, dos quaes os 300 vivem no Couto, [que] dista de Braga duas legoas e méa para oriente”[88].

5. O fim do mosteiro por decreto de D. Fernando da Guerra
5. 1 – O Arcebispo D. Fernando da Guerra e a crise dos Séculos  XIV e XV
O Arcebispo bracarense D. Fernando da Guerra, neto de D. Pedro I por ser filho de D. João, bastardo deste rei de Portugal com D. Inês de Castro, nasceu, talvez em Lisboa, ou em Santarém, provavelmente em 1387, vindo a morrer em Braga, no dia 26 de Setembro de 1467. Foi sempre protegido pelo seu primo, o rei D. João I, que tudo fez para que ocupasse os elevados cargos na hierarquia da Igreja Romana que efectivamente ocupou ao longo da sua vida.

Igreja de Fontarcada, velhas pedras cheias de história

Depois de ter estudado em Bolonha e “praticado” na Cúria de Roma, foi Chantre de Coimbra, Mestre-escola da Sé de Lisboa, Bispo de Sines (onde nunca compareceu), e, posteriormente Bispo do Porto e Arcebispo de Braga[89]. À frente dos destinos da Mitra bracarense, que manteve por quase cinquenta anos (1417-1467), coube-lhe, entre outras missões de enorme importância, o difícil papel de extinguir um grande conjunto de mosteiros — entre os quais o de Fontarcada[90].

5. 2 – A crise dos Séculos XIV E XV e os mosteiros da Diocese de Braga
Para o enorme território então ocupado pela Arquidiocese de Braga, o Prof. José Marques identifica 78 mosteiros subordinados a Regras de várias Ordens (embora maioritariamente beneditinos), fundados nos séculos XI e XII, defendendo que 60 deles são de fundação anterior ao ano 1100[91]. Este mesmo autor afirma, ainda, que a conhecida crise dos séculos XIV e XV (crise demográfica, económica e política), teve grande influência num processo de estrangulamento de praticamente todas as casas monásticas portuguesas. “Os mosteiros da Diocese de Braga, como os de todo o reino, sofreram gravemente o prolongado impacto da crise, segundo revelam as fontes conservadas nos Arquivos Nacional da Torre do Tombo e Distrital de Braga”[92], afirma, para de seguida acrescentar que “no contexto generalizado da mencionada crise económica, os mosteiros pelo trabalho dos seus monges e de outras pessoas de qualquer forma a elas ligada, devido a uma administração mais correcta e às dádivas recebidas” dispunham de bons recursos, mas também eram alvo das mais desmedidas cobiças por parte de pessoas de condição social elevada, mas sem os meios para manter os níveis de vida a que estavam habituados. Por isso, acrescente ainda José Marques, “a solução mais cómoda e imediata de tais dificuldades residia, normalmente, no assalto aos mosteiros e igrejas das proximidades”[93].
A Peste Negra, que nos séculos XIV e XV se manifestou com especial violência em toda a Europa, levando à já referida crise demográfica que, em Portugal, deverá ter feito desaparecer quase um terço da população[94], teve também grande influência na vida cenobítica, dado que muitos dos frades morreram por ela vitimados. Fruto da fortíssima crise demográfica, as próprias terras que pertenciam aos mosteiros passaram a não ter “braços” para as trabalharem, para as explorarem convenientemente. Problema que, com toda a certeza, levou a que esses mosteiros perdessem parte significativa dos seus recursos materiais.
O somatório das causas e consequências desta situação de crise levou a que as casas monacais, aos poucos, fossem perdendo riqueza e Religiosos, contribuindo para a sua degradação, a qual “viria a atingir a maior amplitude no segundo quartel do século XV”[95].

5. 3 – O fim do mosteiro de Fontarcada
Foi com este clima de grande degradação nos mosteiros da diocese que D. Fernando da Guerra se viu confrontado quando ascendeu à mitra de Braga. Ao longo do quase meio século que durou o seu ministério visitou-os quase todos, e neles se instalou muitas vezes por períodos mais longos, aproveitando para daí partir em Visitação às paróquias dele vizinhas. Contudo, e “apesar dos mosteiros se constituírem como os melhores apoios logísticos para as suas deslocações pelos territórios sob administração religiosa da Diocese bracarense, D. Fernando da Guerra pôde, nessas deslocação — algumas, como se disse, prolongadas — conhecer por dentro os problemas concretos das casas visitadas e preparar as intervenções que viria a encetar — a redução de vários mosteiros a igrejas seculares.
Fontarcada estava entre aqueles que seguiriam esse caminho.
Em 18 de Março de 1424, D. Fernando da Guerra confirmou Frei Gonçalo Borges como Abade do mosteiro de Fontarcada, por renúncia do Abade Vasco Martins. Em 4 de Setembro do ano seguinte, Frei Gonçalo viria a ser transferido para o mosteiro de Refojos de Basto, e nomeado para o substituir em Fontarcada, no mesmo ano, Frei Gonçalo Pereira[96]. Este D. Gonçalo “levou o mosteiro ao último extremo, a ponto de ficar despovoado de monges”[97]. Em 1438, o Arcebispo “deu o mosteiro em comenda ao seu pregador de palácio, o dominicano Mestre Fernando de Chelas”, que, em 10 de Maio de 1455 renunciou à comenda, “em concerto com o Arcebispo”[98]. No mesmo dia, D. Fernando da Guerra “extinguiu o mosteiro e o reduziu a simples igreja secular”[99], e, dez anos passados (1465), o mesmo Arcebispo elevou Fontarcada à dignidade de Arcediagado, cujo titular garantiu assento no Cabido da Sé de Braga[100]. O primeiro Arcediago de Fontarcada foi Fernão Alvares de Almeida, por Bula datada de Braga em 21 de Maio de 1465, onde se lê que “o dito Senhor Arcebispo [D. Fernando da Guerra] por certas e lídimas razões instituiu e ordenou e de novo ordenou hum arcediagado sub título e vocabulo para sempre em Fonte Arcada (…), asinando a dita dignidade cadeira congrua em o dito coro e lugar nas procissões; aplicando ao dito arcediago a igreja do Salvador de Fonte Arcada, com as suas outras igrejas de São Gens, e São Migel de Villela, e São Pedro de Cerzedello, suas anexas ao dito arcediagado”[101].
O cronista beneditino Frei Leão de S. Tomás virá a ser muito cáustico em relação a todo este processo, quando na “Beneditina Lusitana”, afirma: “Passados dez anos o mesmo Arcebispo creou na See de Braga, hum novo Arcediagado, cuja cabeça quis que fosse o Mosteiro, ou Igreja de Fonte Arcada. E assim tem oje cadeira, & título na See de Braga, que segundo dizem tem obrigação de dizer à Missa Mayor dia de S. Pedro, & S. Paulo. Bemdito seja Deos, que por hua só Missa, se trocarão tantas, quantas, os Religiosos dezião em seu Mosteiro”[102].
Não terá razão o autor da “Beneditina” nesta sua afirmação pois, segundo José Marques, o mosteiro “em 1437 já não tinha Monges, aproveitando, por isso, Frei Fernando de Chelas todas as rendas sem se preocupar com a conservação dos edifícios, cada vez mais arruinados; a missa e os ofícios, bem como a administração dos sacramentos, raras vezes tinham lugar, com grave detrimento espiritual dos habitantes das redondezas do mosteiro”[103].
Concluiu-se, pois, que o mosteiro, em termos religiosos, se finara ainda antes da sua redução a arcediagado. O mesmo não terá acontecido com as vastas rendas das suas muitas propriedades, as quais os autores em geral teimam em dizer “que continuaram a correr para Braga”. Secou o mosteiro, mas a fonte que lhe deu nome, "arcada" ou não, continuou, por muitos e bons anos, a brotar ricas rendas para os bolsos dos sucessivos arcediagos que se seguiram a Fernão Alvares de Almeida.


FONTES E BIBLIOGRAFIA 
1. Fontes Impressas
— COSTA, António Carvalho da, Corografia Portuguesa, Lisboa, 1706, Tomo I.
— CRAESBECK, Francisco Xavier da Serra, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho, Barcelos, Edições Carvalhos de Basto, Lda., 1993.
Portugaliae Monumenta HistóricaInquisiciones
— Terras de Lanhoso (Jornal),

2. Bibliografia
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— DINIS, António Pereira, O balneário do Alto de Quintãs (Póvoa de Lanhoso, Norte de Portugal). Um novo caso a juntar ao livro negro da arqueologia do Entre Douro e Minho, in Mínia, nº 10, IIIª série, Braga, ASPA -Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural, 2002.
— FERREIRA, José Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (Séc. III – Séc. XX), Braga, Edição da Mitra Bracarense, 1930, tomo II.
FREITAS, Eugénio Andrêa da Cunha, Um Inédito de Gaspar Álvares de Lousada: O Mosteiro de Fonte Arcada e os seus Fundadores, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1977.
— FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro, O Castelo de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, Editorial Ave Rara, 2005.
— FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro, Terras de Lanhoso – Monografias II – Meã Popula de Lanyoso – Forais de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, Edição da Câmara Municipal, 1992.
— MACHADO, Sérgio Manuel da Costa, Subindo ao Monte de Penafiel de Soaz: ao encontro de São Mamede, Póvoa de Lanhoso, ed. CMPL, 2006.
— MARQUES, A. H. de Oliveira, Nova História de Portugal: Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, (Vol. IV) Lisboa, Editorial Presença, 1987.
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— NORTON, Maria Henriqueta C. R. Teixeira da Mota, O Inquérito de 1758 do Pe. Luís Cardoso, Póvoa de Lanhoso, CMPL, 1987
— PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor, Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogias e Estratégias (1279-1325), Porto, 1997, Vol. I, II e III.
— SANTOS, Pe. Manuel Magalhães dos Santos, Monografia da Freguesia da Póvoa de Lanhoso: Nossa Senhora do Amparo, Póvoa de Lanhoso, edição do Autor, 1990.
SÃO TOMÁS, Frei Leão de, Beneditina Lusitana, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974, Vol. II.
— SOARES, Torquato de Sousa, A Presúria de Porugale (Porto) em 868. Seu Significado Nacional, Porto, Câmara Municipal do Porto, 1967.
— SOUSA, D. Gabriel de, A Póvoa de Lanhoso e a sua Dimensão Beneditina, conferência policopiado, s/data.
— TEIXEIRA, Carlos, Notas Arqueológicas sobre o castro de Lanhoso, Porto, Imprensa Portuguesa, 1940.


[1] Este texto, com breves alterações, foi recuparado de um trabalho presentado em, 2009, em Seminário de História Medieval, Universidade do Minho.
[2] Para um melhor conhecimento desta matéria veja-se, por exemplo: MATTOSO, José (Dir.), História de Portugal, Vol. I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1992. SOARES, Torquato de Sousa, A Presúria de Porugale (Porto) em 868. Seu Significado Nacional, Porto, Câmara Municipal do Porto, 1967.
[3] TOMÁS, Fr. Leão de S., Beneditina Lusitana, Tomo 2, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974, p.257.
[4] TOMÁS, Fr. Leão de S., Beneditina Lusitana, Tomo 2, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1974, p.257.
[5] CRAESBECK, Francisco Xavier da Serra, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho, Barcelos, Edições Carvalhos de Basto, Lda., 1993, pp. 211-212.
[6] TOMÁS, Fr. Leão de S., O. c., p.257.
[7] MARQUES, José, A arquidiocese de Braga no Séc. XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988, p. 666-667.
[8] MATTOSO, José, A Nobreza Medieval Portuguesa: a Família e o Poder, Editorial Estampa (4ª ed.) Lisboa, 1994, pp.13-14.
[9] COSTA, Avelino de Jesus da, O Bispo D. Pedro e a Organização da Arquidiocese de Braga, Vol. I, Braga, Irmandade de S. Bento da Porta Aberta (2ª ed.), 1997. Mapa nº 2 do Apêndice Documental.
[10] MATTOSO, José, Identificação de um País; Ensaio sobre as Origens de Portugal – 1096-1325, Vol. I, Editorial Estampa, (5ª ed.), 1995, pág. 149.
[11] COSTA, Avelino de Jesus da, O. c., Mapa nº 2 do Apêndice Documental.
[12] A designação “monte Spino” aparece em vários documentos dos séculos XI e seguintes. Como, em 1680, aproveitando parte da pedra aparelhada das muralhas, um rico comerciante do Porto natural da Póvoa de Lanhoso ali construiu um santuário em honra de Nossa Senhora do Pilar, o local passou a designar-se por “monte do Pilar”.
[13] Esta antiga via tem sido na última década estudada e valorizada, encontrando-se hoje perfeitamente identificado o seu traçado original que, em grande parte, pode ser percorrido. Aos interessados em conhecer melhor a Via XVI, aconselha-se consulta junto da Divisão de Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso.
[14] FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro, O Castelo de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, Editorial Ave Rara, 2005, p. 11.
[15] O Castelo de Lanhoso”, Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nº 29, Setembro de 1942, pp 6-7.
[16] ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, História da Arte em Portugal – O Românico, Lisboa, Editorial Presença, 2001, p. 145.
[17] TEIXEIRA, Carlos, Notas Arqueológicas sobre o castro de Lanhoso, Porto, Imprensa Portuguesa, 1940, pp. 6-7
[18] Pequeno curso de água que nasce na freguesia de Rendufinho e vai desaguar ao rio Ave. Até aos inícios do segundo quartel do século XX, serviu de “fronteira” entre as freguesias de Lanhoso e Fontarcada.
[19] Citado por jornal Terras de Lanhoso, nº 230, de 9 de Maio de 2007, p. 9.
[20] A história triste da destruição deste balneário, igual a tantas outras que, neste país onde o património tem sido alvo dos mais miseráveis actos de vandalismo consentido, não dispensa, para “memória futura”, uma nota neste trabalho. No ano 2000, uns pedreiros que limpavam com uma máquina de terraplanagem um terreno para alargamento de uma pedreira existente no local onde se situou castro referido, destruíram um balneário que ali se encontrava soterrado. Tudo foi reduzido a escombros, sobejando apenas algumas pedras trabalhadas, mesmo assim quebradas em várias partes. De alguns pedaços dessas pedras espalhados pelo local, que posteriormente foram entregues à Câmara da Póvoa de Lanhoso, foi refeita uma “pedra bonita” que os arqueólogos consideram “um excelente exemplar, comparável a outras que foram encontradas em grandes castros do Vale do Ave, a qual se encontra hoje exposta no Centro de Interpretação do Património sedeado na Casa da Botica da Póvoa de Lanhoso. Para maior conhecimento do espólio e do episódio de destruição, pode ler-se: DINIS, António Pereira, O balneário do Alto de Quintãs (Póvoa de Lanhoso, Norte de Portugal). Um novo caso a juntar ao livro negro da arqueologia do Entre Douro e Minho, in Mínia, nº 10, IIIª série, Braga, ASPA -Associação para a Defesa, estudo e divulgação do Património Cultural e Natural, 2002, pp. 159-179.
[21] DINIS, António Pereira, O. c., p. 168.
[22] Para um melhor conhecimento desta matéria, consultar, por exemplo: GARCIA DE CORTAZAR, José Algel, História Rural Medieval, Lisboa, Editorial Estampa, 1996;
[23] A freguesia da Póvoa de Lanhoso é de criação muito recente (1930). Até então, as terras a Sul do ribeiro Pontido, onde se encontra a “Quintã”, pertenciam à freguesia de Fontarcada, à qual foram retiradas, com outras da de Lanhoso, para a criação da nova freguesia.
[24] COSTA, O. c., p. 113
[25] FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro, Terras de Lanhoso – Monografias II – Meã Popula de Lanyoso – Forais de Lanhoso, Póvoa de Lanhoso, Edição da Câmara Municipal, 1992, p. 72.
[26] FREITAS, Paulo Alexandre Ribeiro, O. c., p. 123.
[27] CAPELA, José Viriato; BORRALHEIRO, Rogério, O Concelho de S. João de Rei, A Reforma Liberal dos Concelhos e os Últimos Anos do Concelho de S. João de Rei, in Revista Lanyoso Nº 1, ed. CMPL, 2006.
[28] MACHADO, Sérgio Manuel da Costa, Subindo ao Monte de Penafiel de Soaz: ao encontro de São Mamede, Póvoa de Lanhoso, ed. CMPL, 2006.
[29] CELESTINO, António, Antigamente Era San Jhoan de Rey, Póvoa de Lanhoso, Edição da Câmara Municipal, 1994.
[30] SANTOS, Pe. Manuel Magalhães dos Santos, Monografia da Freguesia da Póvoa de Lanhoso: Nossa Senhora do Amparo, Póvoa de Lanhoso, ed. do Autor, 1990, p. 36.
[31] CUNHA, Pe. Arlindo Ribeiro da, Os Machados da Torre de Geraz, Póvoa de Lanhoso, edição do jornal Terras de Lanhoso, (2ª edição), 2003, p. 12
[32] Em trabalho recente, José Augusto Pizarro (vd. PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogias e Estratégias (1279-1325), Porto, 1997, pp. 675-676 e 617-619) adianta a hipótese de os Ribeiros não terem raiz nos Condes de Cabreira, mas sim dos Guedões. Não coloca dúvida, porém, na paternidade dos Ribeiros a partir de Moninho Osores, como a não coloca na atribuição do Couto de Pousadela, em 1200, a um membro da família Ribeiro, que não Maria Pães Ribeiro. Segundo este autor, o Couto terá sido doado a Pêro Nunes “Pestanas de Cão”, o “primeira a usar o nome Ribeiro, ou Ribeira, e a quem D. Sancho I, em 1200, doou e coutou o reguengo de Parada”. Tratar-se-á do mesmo Couto? É um assunto que merece outro desenvolvimento.
[33] CUNHA, Pe. Arlindo Ribeiro da, Os Machados da Torre de Gerás, Póvoa de Lanhoso, Edição Terras de Lanhoso, 2003.
[34] PIZARRO, José Augusto, Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogias e Estratégias (1279-1325), Porto, 1997, p. 820.
[35] CUNHA, Pe. Arlindo Ribeiro da, O. c., p. 12
[36] CUNHA, Pe. Arlindo Ribeiro da, O. c., p. 12
[37] PIZARRO, José Augusto, O. C., pp. 821-822.
[38] PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 817.
[39] Este Moninho Osores é o primeiro dos confirmante da Carta de Couto ao mosteiro de Fontarcada, o que demonstra a sua proximidade à Cúria de Afonso Henriques. José Augusto Pizarro diz que está documentado em 1138 e em 1139, e que foi um segundogénito da casa de Cabreira que veia para Portugal “em busca de fortuna e de uma herdeira. Parece que o conseguiu, pois acabaria por casar com D. Boa Nunes de Grijó que, à falta de irmãos, ficou com a representação da casa de Grijó (cf. PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 817).
[40] PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 821-822.
[41] PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 823.
[42] Cf. PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 821.
[43] PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 821.
[44] José Augusto Pizarro, na obra que temos vindo a citar (p. 819), afirma que “o século XII assistiu uma vez mais ao declínio da linhagem dos de Lanhoso-Berredo, talvez motivado por razões de ordem política (…)”, acrescentando em nota de rodapé que nem o casamento de um filho de D. Martim Pais Ribeiro com uma filha do valido Rui Gomes de Briteiros terá conseguido suster o declínio da linhagem. Ora, aquando da chegada a Portugal de D. Afonso III, para ocupar o trono em substituição de seu irmão D. Sancho II (1246), o Castelo de Lanhoso terá sido entregue a partidários do Bolonhês. “Durante o reinado de D. Afonso II, era Alcaide do Castelo de Lanhoso D. Godinho Fafes que substabelecera a alcaidaria num certo Mem Cravo. Este, sem seu consentimento (de Godinho Fafes), entregou as chaves do Castelo a D. Afonso, futuro Afonso III. (Cf. FREITAS, O. c., pp. 19-20). Terão resultado deste episódio e de movimentações políticas ocorridas nesta ocasião, que levaram ao declínio dos Lanhoso-Ribeiro-Berredo? É uma das questões que se pretende investigar ver com maior cuidado e profundidade no desenvolvimento futuro deste trabalho.
[45] PIZARRO, José Augusto, O. C., p. 821-822.
[46] BASTOS, Paixão, No Coração do Minho: a Póvoa de Lanhoso Histórica e Ilustrada, Braga, Tipografia Henriquina a Vapor, 1907, pp. 21-22, onde se encontra esta citação do Conde D. Pedro.
[47] BASTOS, Paixão, O. c., pp. 22-24.
[48] S. TOMÁS, Frei Leão de, Beneditina Lusitana, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1947, Vol. II, p. 257-259.
[49] D. Garcia, filho de D. Fernando I, o “Magno”, foi rei da Galiza. Esta batalha de Águas Maias, ou de Santarém como referem outros autores, terá ocorrido entre o seu exército e o de seu irmão Sancho II de Castela (1065-1072), tendo o primeiro sido derrotado. Um outro irmão de ambos, Afonso VI de Leão (1065-1109) viria a derrotar D. Sancho II, reunificando sob a sua autoridade os três reinos. Afonso VI foi o pai de D. Teresa e avô de D. Afonso Henriques.
[50] Mattoso, José, Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros – A Nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII, Lisboa, Guimarães Editores, 1998, p. 45-46.
[51] Mattoso, José, O. c., p. 45-46.
[52] Mattoso, José, O. c., p. 45-46.
[53] PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas – Genealogias e Estratégias (1279-1325), Porto, 1997, Vol. II, pp.737-738
[54] FREITAS, Eugénio Andrêa da Cunha, Um Inédito de Gaspar Álvares de Lousada: O Mosteiro de Fonte Arcada e os seus Fundadores, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1977.
[55] O licenciado Gaspar Álvares de Lousada Machado ordenou o Arquivo da Mitra de Braga, no tempo do Arcebispo D. Fr. Agostinho de Jesus e Castro. Mais tarde foi reformador dos padroados reais (1612) e, ainda no mesmo ano, Escrivão da Torre do Tombo. Considerado por muitos historiadores como o “maior falsário” português de documentos históricos, tem sido reabilitado pela “actual crítica histórica” segundo Cunha Freitas (o. c. pp. 108-109).
[56] FREITAS, O. c., p.110
[57] Cuja cópia se anexa no fim deste trabalho.
[58] FREITAS, O. c., p.114
[59] COSTA, António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa, Lisboa, 1706, Tomo I, p. 163
[60] CRAESBECK, Francisco Xavier da Serra, Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho, Barcelos, Edições Carvalhos de Basto, Lda., 1993, p 211.
[61] BRANCO, Camilo Castelo, O Demónio do Ouro, (Vol. I), Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 6ª ed., 1970, pp. 14-15.
[62] Camilo, tal como outros autores de romances do século XIX, é hoje muitas vezes citado por historiadores. Não que as suas obras façam fé como fonte historiográfica, mas pelo facto de, muitas vezes, as confirmarem. É este o pretexto pelo qual se insere aqui esta descrição do autor de O Demónio do Ouro.
[63] COSTA, António Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa, Lisboa, 1706, Tomo I, p. 163
[64] CAPELA, José Viriato, As Freguesias do Distrito de Braga nas Memórias Paroquiais de 1758. A construção do imaginário minhoto setecentista, Braga, Edição Integrada no Projecto A Descrição do Território Português do Século XVIII, 2003, pp. 386-388. NORTON, Maria Henriqueta C. R. Teixeira da Mota, O Inquérito de 1758 do Pe. Luís Cardoso, Póvoa de Lanhoso, CMPL, 1987, p. 92.
[65] ALMEIDA, Ferreira, O. c., p. 66
[66] S. TOMÁS, Frei Leão de, O. c., Tomo II, p. 257
[67] BASTOS, Paixão, No Coração do Minho: a Póvoa de Lanhoso Histórica e Ilustrada, Braga, Tipografia Henriquina a Vapor, 1907, p. 32
[68] Tal como outras propriedades do mosteiro de Fontarcada, esta enorme quinta passou para o Arcediagado criado por D. Fernando da Guerra, como à frente se verá, e, mais tarde, para a Patriarcal de Lisboa. Por lei de 15 de Abril de 1835 viria a integrar a Fazenda Nacional, sendo seu primeiro possuidor por arrematação José Miguel Quaresma, residente nos Arcos de Valdevez (cf. BASTOS, O. c., p. 32).
[69] SOUSA, D. Gabriel de, A Póvoa de Lanhoso e a sua Dimensão Beneditina, policopiado, s/data.
[70] COSTA, Avelino de Jesus da, O. c., Vol, II, p. 237.
[71] CRAESBECK, O. c., p. 215.
[72] CRAESBECK, O. c., p. 216.
[73] SOUSA, D. Gabriel de, O. c., p. 4.
[74] ALMEIDA, Ferreira, o. c., p. 110. Este autor cita um documento de 1257, que “refere uma dádiva de dez morabitinos para as obras, datação que”, afirma, “serve muito bem para o estilo da capela-mor que aqui encontramos”.
[75] A carta de Couto a Fontarcada é, se a documentação nos não engana, do ano de 1132. As cartas de couto a senhores monásticos, desde 1096 e até 1120, eram concedidas esporadicamente; entre 1120 e 1150, a atribuição generalizou-se e multiplicou-se; após 1150 e até 1185, “as cartas parecem ser concedidas por razões especiais”. José Mattoso refere que com D. Afonso Henriques, entre 1128 e 150, as cartas de couto eram compradas por preços altos (excluindo as atribuídas a eremitas, que são gratuitas). Afonso Henriques “pretende [ao concedê-las] primeiro obter ou compensar a ajuda dos senhores locais, mesmo de segunda categoria, e depois conseguir auxílio monetário para as suas expedições, uma vez que a maioria das concessões são compradas a peços relativamente altos”. (cf. MATTOSO, José, A Nobreza Medieval Portuguesa: A Família e o Poder, Lisboa, Editorial Estampa, (4ª ed.), 1994, pág. 272-273
[76] Fáfila Lucides governou Lanhoso entre 1110 e 1115, tendo sido casado com Dórdia Viegas, uma das filhas de Egas Pais de Penagate (Cf. [76] MATTOSO, José, Identificação de um País; Ensaio sobre as Origens de Portugal – 1096-1325, Lisboa, Editorial Estampa, (5ª ed.), 1995, Vol I., pág. 149
[77] CRAESBECK, O. c., pp. 211-212.
[78] Nos anexos constantes deste trabalho, junta-se uma cópia da Carta de Foral traduzida para português por Belarmino Marques Leite, a quem desde já se agradece.
[79] Está nesta freguesia (hoje fora do seu sítio original), a Pedra de Couto usada como ilustração na capa deste trabalho.
[80] PIZARRO, O. c., p. 716.
[81] PIZARRO, O. c., p. 728.
[82] Para já, apenas tivemos oportunidade de aceder às Inquirições de Afonso II, por serem estas as que se encontravam disponíveis no Arquivo Distrital de Braga. No desenvolvimento futuro deste trabalho, pretende-se consultar as Inquirições que se seguiram a estas, pois acredita-se que nelas exista outra vasta informação sobre o mosteiro de Fontarcada.
[83] Portugália Monumenta Histórica, Inquisitiones, Vol. I, p. 56.
[84] Portugália Monumenta Histórica, Inquisitiones, Vol. I, p. 145.
[85] Portugália Monumenta Histórica, Inquisitiones, Vol. I, p. 197.
[86] Portugália Monumenta Histórica, Inquisitiones, Vol. I, p. 246.
[87] Portugália Monumenta Histórica, Inquisitiones, Vol. I, p. 246.
[88] FREITAS, O. c., p. 117
[89] MARQUES, José, A Arquidiocese de Braga no Séc. XV, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988
[90] Para um melhor conhecimento da vida e obra deste Arcebispo de Braga, consultar as obras: MARQUES, José, O. c.; e FERREIRA, José Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (Séc. III – Séc. XX), Braga, Edição da Mitra Bracarense, 1930, tomo II, pp. 249-298
[91] MARQUES, José, O. c., p.621
[92] MARQUES, José, O. c., p. 634.
[93] MARQUES, José, O. c., p. 634. Esta questão não se colocava somente em relação aos mosteiros. Nma carta do Arcebispo D. Fernando da Guerra a D. João I, que consta da obra de José Marques que temos vindo a citar (p. 638), lê-se: “… alguns fidalgos escudeiros se vãoo os mosteiros e egrejas e câmaras e quintaes e casaaes suas e dos ditos seus mosteiros e poussam em ellas e lhes tomam e mandam tomar paaes e vinhos e carnes e roupas e galinhas e patos e leytõoes e cevada e outras cousas (…)”.
[94] MARQUES, A. H. de Oliveira, Nova História de Portugal: Portugal na Crise dos Séculos XIV e XV, (Vol. IV) Lisboa, Editorial Presença, 1987, p. 21.
[95] MARQUES, José, O. c., p. 640.
[96] FERREIRA, José Augusto, Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (Séc. III – Séc. XX), Braga, Edição da Mitra Bracarense, 1930, Tomo II, pp. 289-290.
[97] SOUSA, D. Gabriel de, A Póvoa de Lanhoso e a sua Dimensão Beneditina, policopiado, s/data, p. 4
[98] SOUSA, D. Gabriel de, O. c., p. 4.
[99] SOUSA, D. Gabriel de, O. c., p. 4.
[100] MARQUES, José, O. c., p. 667.
[101] Cf. CRAESBECK, Francisco Xavier da Serra, O. c., pp. 218-219.
[102] TOMÁS, Fr. Leão de S., O. c., p.258.
[103] MARQUES, José, O. c., p. 667-668.